sábado, novembro 21, 2009

Ser ou não ser Coppola (3/3)

Este é o registo de uma conversa com Francis Ford Coppola (Cascais, 8 de Novembro), por ocasião do Festival de Cinema do Estoril, tomando como ponto de partida a estreia portuguesa de Tetro — uma versão curta foi publicada no Diário de Notícias (14 de Novembro), com o título 'Nunca me imaginei como um realizador famoso'. [1] [2]

Sente-se atraído pelo formato de três dimensões?
Acho que é uma brincadeira. No essencial, o 3-D não mudou desde os anos 50, continua a ser com óculos. Não passa de uma tentativa patética dos estúdios para combater a pirataria, os downloads e outras formas de entertainment como o desporto. Alguém acredita que o 3-D pode melhorar uma má história?

Como é o seu gosto enquanto espectador?
Tenho um gosto muito aberto. O que me parece é que as exigências comerciais estão a destruir a variedade do cinema. Agora, já quase não é possível fazer um drama... Tem de ser um thriller!

Aliás, nos anos 60, a variedade do cinema americano era muito maior.
Sem dúvida. A variedade é uma coisa boa, devia haver todos os géneros de filmes. Devia haver filmes não narrativos como Koyaanisqatsi [Godfrey Reggio, 1982 — Coppola figura na ficha como produtor executivo], filmes como os de Peter Greenaway, filmes pequenos e filmes grandes. Mas as companhias vivem tão assustadas que só dão luz verde a um filme quando acham que vai fazer imenso dinheiro... E assim acabarão por perder imenso dinheiro, porque é preciso conservar o sentido do risco.

No seu caso, talvez tenha que fazer uma sequela de Do Fundo do Coração...
Isso é uma longa história porque, de facto, Do Fundo do Coração foi concebido para ser rodado como se fosse televisão em directo, com muitas câmaras. Mas tivemos imensos problemas técnicos e, no derradeiro momento, aceitei fazer o filme com uma única câmara, porque essa era a opção do director de fotografia [Vittorio Storaro]. Foi o único erro que cometi na minha vida... Percebe o que eu quero dizer? Televisão em directo, “câmara 3”, “câmara 2”, como fez John Frankenheimer... Era isso que eu queria fazer!

Digamos que foi um erro maravilhoso.
Não, foi um grande erro, porque seria o mesmo filme, mas melhor. Seria ao vivo. Estou muito interessado em cinema ao vivo, interactivo: parece-me ser essa a solução, muito mais que o 3-D. Além do mais, não é possível pirateá-lo.