Este é o registo de uma conversa com Francis Ford Coppola (Cascais, 8 de Novembro), por ocasião do Festival de Cinema do Estoril, tomando como ponto de partida a estreia portuguesa de Tetro — uma versão curta foi publicada no Diário de Notícias (14 de Novembro), com o título 'Nunca me imaginei como um realizador famoso'.
O filme Tetro tem algo de autobiográfico?
Não, até porque se trata, no essencial, de uma ficção. É verdade que há algumas semelhanças com a história da minha família. É verdade que tive um irmão mais velho que admirava muito. O meu pai era músico, o irmão dele também era músico. Mas o meu pai era um homem bom, não era como a personagem do filme. No fundo, quando escrevemos uma história, usamos sempre alguma coisa da nossa vida.
Em termos mais gerais, até que ponto a sua obra é, de algum modo, impulsionada pela história da sua família?
Uso aquilo que conheço e, em boa verdade, creio que quem escreve faz sempre isso. Não consigo inventar seja o que for sem investir algo de pessoal. Mesmo se fosse uma história sobre uma viagem a Marte, tenho a certeza que conceberia as personagens a partir de gente que conheço, talvez acabasse por estabelecer um paralelo entre os cientistas e as pessoas que fazem filmes...
Nesse sentido, pode dizer-se que a primeira grande viragem na sua obra foi, em 1972, a realização de O Padrinho com um grande estúdio?
Não, até porque o estúdio [Paramount] não apreciava o modo como eu estava a encaminhar o projecto, filmando em cenários reais. Fiz O Padrinho como um filme muito pessoal e, curiosamente, a rodagem demorou exactamente o mesmo tempo que a de Tetro. Além do mais, na altura, todos os actores eram desconhecidos, excepto Marlon Brando que era visto como um ídolo do passado. De facto, foi um filme de orçamento reduzido que acabou se transformar num grande sucesso. O estúdio só começou a interferir mais quando o livro de Mario Puzo se tornou num fenómeno de popularidade. Foi uma relação tensa, mas o certo é que a rodagem se passava em Nova Iorque, longe do estúdio na Califórnia.
Hoje em dia, seria possível repetir essas condições de rodagem e ter, em particular, a sua liberdade?
Seja como for, foi uma liberdade muito conflituosa. O orçamento original era de 2,5 milhões de dólares e o estúdio não queria que o filme fosse rodado em Nova Iorque. Além disso, queriam que fosse contemporâneo, com as marcas dos anos 70, não um filme de época. Ora, eu queria fazer O Padrinho situado logo após a Segunda Guerra Mundial, o que, evidentemente, implicava mais gastos com os carros, o guarda-roupa, etc. Resultado: acabou por custar 6 milhões de dólares e é um facto que o filme se tornou famoso pelo seu ambiente de época. Na altura, eu era um jovem realizador, não especialmente importante, e eles ameaçaram despedir-me. Eu disse que o fizessem, mas enquanto isso não acontecesse ia continuar a fazer o filme de acordo com a minha ideia.
O filme Tetro tem algo de autobiográfico?
Não, até porque se trata, no essencial, de uma ficção. É verdade que há algumas semelhanças com a história da minha família. É verdade que tive um irmão mais velho que admirava muito. O meu pai era músico, o irmão dele também era músico. Mas o meu pai era um homem bom, não era como a personagem do filme. No fundo, quando escrevemos uma história, usamos sempre alguma coisa da nossa vida.
Em termos mais gerais, até que ponto a sua obra é, de algum modo, impulsionada pela história da sua família?
Uso aquilo que conheço e, em boa verdade, creio que quem escreve faz sempre isso. Não consigo inventar seja o que for sem investir algo de pessoal. Mesmo se fosse uma história sobre uma viagem a Marte, tenho a certeza que conceberia as personagens a partir de gente que conheço, talvez acabasse por estabelecer um paralelo entre os cientistas e as pessoas que fazem filmes...
Nesse sentido, pode dizer-se que a primeira grande viragem na sua obra foi, em 1972, a realização de O Padrinho com um grande estúdio?
Não, até porque o estúdio [Paramount] não apreciava o modo como eu estava a encaminhar o projecto, filmando em cenários reais. Fiz O Padrinho como um filme muito pessoal e, curiosamente, a rodagem demorou exactamente o mesmo tempo que a de Tetro. Além do mais, na altura, todos os actores eram desconhecidos, excepto Marlon Brando que era visto como um ídolo do passado. De facto, foi um filme de orçamento reduzido que acabou se transformar num grande sucesso. O estúdio só começou a interferir mais quando o livro de Mario Puzo se tornou num fenómeno de popularidade. Foi uma relação tensa, mas o certo é que a rodagem se passava em Nova Iorque, longe do estúdio na Califórnia.
Hoje em dia, seria possível repetir essas condições de rodagem e ter, em particular, a sua liberdade?
Seja como for, foi uma liberdade muito conflituosa. O orçamento original era de 2,5 milhões de dólares e o estúdio não queria que o filme fosse rodado em Nova Iorque. Além disso, queriam que fosse contemporâneo, com as marcas dos anos 70, não um filme de época. Ora, eu queria fazer O Padrinho situado logo após a Segunda Guerra Mundial, o que, evidentemente, implicava mais gastos com os carros, o guarda-roupa, etc. Resultado: acabou por custar 6 milhões de dólares e é um facto que o filme se tornou famoso pelo seu ambiente de época. Na altura, eu era um jovem realizador, não especialmente importante, e eles ameaçaram despedir-me. Eu disse que o fizessem, mas enquanto isso não acontecesse ia continuar a fazer o filme de acordo com a minha ideia.