Pedro Costa, cineasta português, é neste momento um nome em destaque na programação da Tate Modern, em Londres... Quem? Onde? Eis as perguntas que muitos cidadãos, mais ou menos surpresos, poderão fazer — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Setembro), com o título 'Continuar a contar histórias'.
Enquanto ainda circulam os ecos televisivos dos polémicos penalties da última jornada futebolística, está a decorrer, em Londres, numa das mais prestigiadas instituições artísticas do planeta (Tate Modern), uma retrospectiva integral da obra de um dos grandes cineastas portugueses. Chama-se ele Pedro Costa, nasceu em 1959, e o seu nome é desconhecido da esmagadora maioria da população do seu próprio país.
Bem sabemos a triste confusão que circunstâncias como esta quase sempre lançam na praça pública. Na melhor das hipóteses, ficaremos pelo voto piedoso de celebrar o prestígio que os nossos artistas conseguem “lá fora”; na pior, assistiremos à renovada avalancha de demagogia que proclama que os intelectuais só falam de filmes que “ninguém” quer ver (demagogia que, curiosamente, passou incólume da época do Estado Novo para os tempos da democracia). Vale a pena, por isso, desviarmo-nos e dar alguma atenção às convulsões internas da obra de Pedro Costa. Ou seja, e de acordo com o voto de Baudelaire, vale a pena sermos parciais, políticos e apaixonados.
Os três filmes que Pedro Costa fez no Bairro das Fontainhas, entre 1997 e 2006 (Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha), constituem um desafio extremo, e de extrema beleza, inerente ao mais radical cinema contemporâneo, de Jean-Luc Godard a David Lynch: trata-se de saber como é possível continuar a contar histórias que respeitem a complexidade dos seres humanos, ao mesmo tempo recusando a normalização estética e moralista de muitas ficções de raiz televisiva. No caso de Pedro Costa, podemos perceber agora que esse empenhamento liga a austeridade do filme de estreia, O Sangue (1989), com a estranha musicalidade do recentíssimo Ne Change Rien, com Jeanne Balibar. Além do mais, o penalty que deu a vitória ao Benfica foi mal assinalado.
Enquanto ainda circulam os ecos televisivos dos polémicos penalties da última jornada futebolística, está a decorrer, em Londres, numa das mais prestigiadas instituições artísticas do planeta (Tate Modern), uma retrospectiva integral da obra de um dos grandes cineastas portugueses. Chama-se ele Pedro Costa, nasceu em 1959, e o seu nome é desconhecido da esmagadora maioria da população do seu próprio país.
Bem sabemos a triste confusão que circunstâncias como esta quase sempre lançam na praça pública. Na melhor das hipóteses, ficaremos pelo voto piedoso de celebrar o prestígio que os nossos artistas conseguem “lá fora”; na pior, assistiremos à renovada avalancha de demagogia que proclama que os intelectuais só falam de filmes que “ninguém” quer ver (demagogia que, curiosamente, passou incólume da época do Estado Novo para os tempos da democracia). Vale a pena, por isso, desviarmo-nos e dar alguma atenção às convulsões internas da obra de Pedro Costa. Ou seja, e de acordo com o voto de Baudelaire, vale a pena sermos parciais, políticos e apaixonados.
Os três filmes que Pedro Costa fez no Bairro das Fontainhas, entre 1997 e 2006 (Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha), constituem um desafio extremo, e de extrema beleza, inerente ao mais radical cinema contemporâneo, de Jean-Luc Godard a David Lynch: trata-se de saber como é possível continuar a contar histórias que respeitem a complexidade dos seres humanos, ao mesmo tempo recusando a normalização estética e moralista de muitas ficções de raiz televisiva. No caso de Pedro Costa, podemos perceber agora que esse empenhamento liga a austeridade do filme de estreia, O Sangue (1989), com a estranha musicalidade do recentíssimo Ne Change Rien, com Jeanne Balibar. Além do mais, o penalty que deu a vitória ao Benfica foi mal assinalado.