Escusado será lembrar que o IMDb é um site muito consultado e, por vezes, muito útil (mesmo se, de um modo geral, a informação sobre a produção europeia é francamente mais limitada do que a referente à indústria americana). O certo é que, não poucas vezes, o IMDb, nem que seja por demissão, é também um promotor dos mais primários clichés sobre um pouco de tudo, incluindo o trabalho dos críticos.
Repare-se no texto que, actualmente, abre a zona de comentários de Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino. Proveniente de um visitante de Toronto, o comentário reage contra algumas leituras críticas (serão, em particular, provenientes dos EUA), muito negativas em relação ao filme. Não que eu concorde com tais leituras (o filme parece-me mesmo um dos mais espantosos objectos de cinema do momento; aliás, impressionou-me imenso desde a sua descoberta em Cannes). Não é uma questão de "pró" ou "contra" que está em causa — é, isso sim, o facto de tal servir de pretexto para "arrebanhar" os críticos como uma colecção de patetas que, em última instância, se entediam com o cinema. Aliás, o visitante nem sequer formula a simples e humana hipótese de podermos discordar de outro sem o considerar um atrasado mental... O título do comentário é, nesse aspecto, esclarecedor: "Not for critics, but people who love a good movie" (à letra: "Não para críticos, mas para pessoas que gostam de um bom filme").
Em última instância, o que aqui se discute não é nenhum ponto de vista sobre Inglourious Basterds (como não seria se alguém escrevesse "não para espectadores, mas para pessoas que gostam de um bom filme"). O que aqui se discute é a chocante "neutralidade" com que o IMDb — que ostenta a orgulhosa divisa: visitado mensalmente por mais de 57 milhões de amantes do cinema e da TV — promove este tipo de infantilismo cinéfilo. Em boa verdade, é abusiva qualquer confusão entre os insultos deste estilo conflituoso e a cinefilia.