Temos, actualmente, à nossa disposição um exemplo de excelência: a série Mad Men (RTP2). A sexualidade é apenas um dos temas tratados muito para além dos clichés televisivos, nomeadamente das telenovelas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 de Agosto), com o título 'Sexo, anos 60'.
Ciclicamente, algumas telenovelas vêm prometer este mundo e o outro na abordagem da sexualidade. Cenas “ousadas” é mesmo uma das suas bandeiras mais ou menos explícitas. Na certeza de que, de acordo com a sua ideologia, a “ousadia” se mede em centímetros de nudez... Isto para já não falarmos do misto de determinismo afectivo e moralismo social com que é encenada a vida sexual das personagens. Não deixa de ser irónico, por isso mesmo, que uma abordagem visceralmente adulta da sexualidade esteja a passar nas televisões portuguesas sem que o país seja minimamente abalado pelo assunto. Dá pelo nome de Mad Men, é uma série americana criada pelo argumentista e produtor Matthew Weiner (nome também ligado a Os Sopranos) e tem como cenário principal uma agência de publicidade na Nova Iorque do começo dos anos 60.
Não é, entenda-se, uma série sobre a sexualidade por nela haver muitas “cenas de cama”. Esse conceito (?) telenovelesco, além de ofensivo em relação à complexidade emocional de qualquer ser humano, acaba por ser também uma forma de criar narrativas esquemáticas, estereotipadas e banalmente formatadas. Em termos simples, podemos dizer que Man Men se situa num momento da história social americana (e não só) em que se cruzam duas fundamentais linhas de força: por um lado, uma evolução de usos e costumes que tende a criar novas condições de liberdade para as mulheres (o uso da pílula é, logo no primeiro episódio, um índice revelador); por outro lado, a persistência de um imaginário (familiar, profissional e social) em que os homens emergem como autoridade “natural”, supostamente incontestável. Escusado será dizer que a concentração de tudo isso no espaço da publicidade confere a Mad Men a convulsão própria de um universo em que, todos os dias, se confrontam a verdade mais crua das relações humanas e as imagens idealizadas (publicitárias, em particular) dos seus protagonistas.
Tudo isto pode ser descoberto na RTP2, às sextas-feiras, por volta da 22h35. Tendo em conta que, logo a seguir, é possível ver um dos cinco episódios semanais de 30 Rock, podemos dizer que já há muito tempo não se via tamanha apoteose televisiva.
Ciclicamente, algumas telenovelas vêm prometer este mundo e o outro na abordagem da sexualidade. Cenas “ousadas” é mesmo uma das suas bandeiras mais ou menos explícitas. Na certeza de que, de acordo com a sua ideologia, a “ousadia” se mede em centímetros de nudez... Isto para já não falarmos do misto de determinismo afectivo e moralismo social com que é encenada a vida sexual das personagens. Não deixa de ser irónico, por isso mesmo, que uma abordagem visceralmente adulta da sexualidade esteja a passar nas televisões portuguesas sem que o país seja minimamente abalado pelo assunto. Dá pelo nome de Mad Men, é uma série americana criada pelo argumentista e produtor Matthew Weiner (nome também ligado a Os Sopranos) e tem como cenário principal uma agência de publicidade na Nova Iorque do começo dos anos 60.
Não é, entenda-se, uma série sobre a sexualidade por nela haver muitas “cenas de cama”. Esse conceito (?) telenovelesco, além de ofensivo em relação à complexidade emocional de qualquer ser humano, acaba por ser também uma forma de criar narrativas esquemáticas, estereotipadas e banalmente formatadas. Em termos simples, podemos dizer que Man Men se situa num momento da história social americana (e não só) em que se cruzam duas fundamentais linhas de força: por um lado, uma evolução de usos e costumes que tende a criar novas condições de liberdade para as mulheres (o uso da pílula é, logo no primeiro episódio, um índice revelador); por outro lado, a persistência de um imaginário (familiar, profissional e social) em que os homens emergem como autoridade “natural”, supostamente incontestável. Escusado será dizer que a concentração de tudo isso no espaço da publicidade confere a Mad Men a convulsão própria de um universo em que, todos os dias, se confrontam a verdade mais crua das relações humanas e as imagens idealizadas (publicitárias, em particular) dos seus protagonistas.
Tudo isto pode ser descoberto na RTP2, às sextas-feiras, por volta da 22h35. Tendo em conta que, logo a seguir, é possível ver um dos cinco episódios semanais de 30 Rock, podemos dizer que já há muito tempo não se via tamanha apoteose televisiva.