15 de Agosto de 1969 / 15 de Agosto de 2009 — a sedução irresistível dos números redondos leva-nos a evocar, celebrando, o 40º aniversário de um evento que entrou na história e na mitologia da cultura popular. Aliás, o filme de Michael Wadleigh [cartaz] já ajudou mais do que uma geração de espectadores a compreender a singularidade e a energia desses "3 dias de paz, amor e música" que se transfomaram numa referência lendária cujos ecos estão longe de se ter dissipado.
Apesar disso — ou melhor: por causa disso —, importa contornar a facilidade mediática das efemérides que, em casos como este, tendem a ser tratadas como ilustrações de temas "universais" e "imutáveis". Na verdade, não é possível refazer Woodstock à letra. Mesmo que algo da sua herança permaneça vivo e contagiante (e queremos acreditar que sim), não é possível nenhum tipo de retorno ou repetição. Veja-se e escute-se o hino americano tocado por Jimi Hendrix [fragmento do filme de Wadleigh, aqui em baixo]. E observe-se, em particular, o misto de espanto e quietude da audiência: há, ali, uma pose, tecida de assombramento e silêncio, que não é "melhor" nem "pior" que a pose de qualquer outro público, em qualquer outro contexto — mas que não se repete.
Este foi um festival de música vivido, antes do mais, naquele lugar e no seu relativo isolamento. Os 500 mil espectadores não estavam a trocar sms sobre o que cada um via ou apenas pressentia... Não havia telemóveis. Nenhum eco instantâneo estava a ser inscrito em nenhum site ou blog... Quando muito, a Internet era uma utopia científica. Precisamos de fazer um esforço para imaginar o mundo em 1969 — talvez isso nos ajude a sentir, mais e melhor, o génio de Hendrix e a fúria da sua guitarra.