quinta-feira, junho 11, 2009

Cristiano Ronaldo: corpo e alma

Site oficial da PREMIER LEAGUE (26 Out. 2008)

Como se esperava, o Real Madrid manifestou a sua disponibilidade para negociar a transferência de Cristiano Ronaldo por 80 milhões de libras (cerca de 96 milhões de euros). Quem deu a notícia foi o próprio Manchester United, reconhecendo implicitamente que a saída do jogador apenas depende das formalidades que se vão seguir.
Porventura de modo inevitável, a Net foi invadida por considerações morais (muitas delas moralmente chocadas) sobre o volume destes negócios do mundo do futebol — por todo o lado surge, aliás, o top das transferências mais caras de sempre, com Ronaldo, agora, a ocupar o primeiro lugar.
É uma discussão possível mas que, em boa verdade, me parece demasiado esquemática. É certo que os dinheiros que o futebol envolve justificam dúvidas e interrogações (por mim, tenho perguntado regularmente que significado atribuir aos investimentos do Estado português no futebol, em contraste com a continuada contenção no apoio às actividades artísticas, em particular no campo cinematográfico). Em todo o caso, se se trata apenas de especular sobre "tanto" dinheiro, será melhor evitarmos demonizar os protagonistas do futebol, começando antes por olhar as verbas que os negócios de armamentos mobilizam em todo o mundo...
Interessante, neste momento, é o facto de a notícia da transferência de Ronaldo surgir poucos meses depois de o próprio ter declarado que iria cumprir a época de 2009/2010 no Manchester. Mais do que isso: estava no clube "de corpo e alma".


Ora, se há coisas que, creio eu, não se devem invocar em vão são o corpo e a alma.
Ronaldo tem toda a legitimidade para exercer a sua profissão onde muito bem entender. Posso pensar que me parece um erro crasso (profissional, justamente) o facto de ele abandonar um clube que, em termos de formação e projecção, lhe deu mais do que algum outro alguma vez lhe poderá dar — mas é uma mera visão subjectiva... O que é extraordinário é esta facilidade com que se fazem declarações tão radicais — ser radical é ir à raiz das coisas, isto é, ao corpo e à alma —, para depois se passar à frente com apoteótica indiferença.
Daí que, neste momento, me pareça interessante observar como vão reagir os meios de comunicação, especialmente as televisões, que lidam com a figura de Ronaldo como se ele fosse a encarnação de uma inquestionável divindade. São os mesmos meios de comunicação que perseguem (por vezes, em sentido literal) os políticos para lhes pedir "explicações" por terem mudado uma vírgula no seu discurso... Vale a pena verificar como é que esses meios (não) vão confrontar Cristiano Ronaldo com as suas contradições profissionais e filosóficas.