De repente, surge a pergunta: não tera sido um erro insistir numa tão grande expectativa? Afinal de contas, não foi o próprio George Lucas, produtor do capítulo n.º 4 das aventuras de Indiana Jones, que veio garantir que se tratava apenas de um filme?
A questão é esta: nunca será possível olhar para Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Selecção Oficial / extra-competição) como se a trilogia fundadora (1981 + 1984 + 1989) não existisse — e, acima de tudo, como se não fosse uma das grandes concretizações da revisão moderna do conceito clássico de aventura. Que resta, então? Uma espécie de plataforma para os jogos de vídeo: uma longa (longuíssima...) perseguição na selva que pode ser transformada num jogo de variáveis mais ou menos previsíveis; e uma longa (longuíssima...) deambulação final pelo obrigatório templo misterioso, já aqui encenada com efeitos digitais que parecem antecipar, imagem a imagem, as soluções previstas para as consolas de jogos. Nos últimos 30 minutos, dir-se-ia que as personagens — logo, tambem os actores — apenas têm por missão olhar para a proliferação de efeitos imateriais, por vezes de pueril imaginação. O jogo com o chapéu? Estava no trailer... e o filme deixa essa sensação amarga de ser uma mera extensão do trailer.
Não se trata de reavivar a discussão simplista do "Spielberg: génio ou charlatão?" Nada da sua prodigiosa contribuição para o cinema contemporâneo está em causa. Mas, por vezes, e inevitável sentirmos que saber envelhecer é tambem uma arte. E das mais difíceis.