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Não é a primeira vez que
Tim Burton aborda o formato musical. Fê-lo, exemplarmente, por duas vezes, tanto em
O Estranho Mundo de Jack e
A Noiva Cadáver, ambos os casos filmes de animação, com canções expressamente criadas para o efeito pelo seu regular parceiro Danny Elfman.
Sweeney Todd, contudo, representa um passo de outra ousadia, não só ao trazer o musical para os corpos de carne e osso dos actores como ao “ousar” adaptar ao cinema, seguindo a rigor as canções originais, o musical com o mesmo nome, assinado por Stephen Sondheim. Antigo mito urbano londrino, Sweeney Todd é um barbeiro que, atirado para a prisão por um juiz corrupto que lhe fica com a mulher, regressa para se vingar. A navalha, afiada, faz mais que a barba a quem visita a barbearia e nunca mais de lá regressa. A ajudá-lo, a dona do restaurante no rés-do-chão, que outrora fazia as empadas menos desejadas de Londres e que, com carne “nova”, transforma o negócio e faz do menu renovado um dos mais populares repastos da cidade... A história não poderia fugir nunca a Tim Burton, cabendo que nem uma luva no seu livro de estilo. Burton adapta o musical com rigor musical (Sondheim assistiu e aprovou), mas visualmente chama a história, personagens e lugares ao seu universo sombrio, gótico e muito pessoal. E é aí que
Sweeney Todd “brilha”. A cor mal surge numa cidade de clima e gente desbotada e só o vermelho, exacerbado, do sangue, rompe a “harmonia” desmaiada dos cenários. Nota maior para Johnny Deep na sua sexta colaboração com Burton (a segunda cantada, na sequência de
A Noiva Cadáver) e para um espantoso Sacha Baron Cohen, o rival barbeiro Pirelli.