domingo, setembro 30, 2007

Santana Lopes/SIC Notícias: uma opinião

O recente diferendo Santana Lopes/SIC Notícias suscitou-me, aqui, a publicação de três posts (1, 2, 3). A esse propósito, um dos nossos visitantes, Leonel Ferreira, enviou-nos um mail onde, além do episódio em causa, evoca também o que aqui escrevi sobre um outro caso televisivo, protagonizado há poucos meses, na MSNBC, pela jornalista Mika Brzezinski — aqui fica esse mail e a minha resposta.

Caro João Lopes,
começo por admitir que a minha argumentação terá premissas suprimidas. Contudo, confesso que estou esperançado que irá compreender tão bem quanto eu onde pretendo chegar. No dia 30 de Junho de 2007, escreveu o caríssimo João Lopes, a propósito da opinião manifestada por Mika Brzezinski sobre o alinhamento das notícias: que se tratavam então de «uns três espantosos minutos de televisão, realmente capazes de tocar no cerne desse populismo mediático que, hoje em dia, infesta tantas formas de jornalismo».
Ora, se bem entendo, ao segundo texto, a atitude de Santana Lopes traz já sintomas de premeditação, pois afinal «o próprio Santana Lopes bem sabe como tudo isso funciona». Sabe o Santana Lopes, é certo, mas também o sabe a jornalista Mika Brzezinski. A diferença é que mesmo que os responsáveis da MSNBC soubessem o que Brzezinski ia fazer, isso não anula a importância e a pertinência da sua posição crítica. A diferença é isto. Isto e mais uns pozinhos… Não há pertinência crítica no gesto de Santana Lopes. Por outro lado, é-nos dada a complacência e condescendência de quem, sendo portador dessa mesma razão iluminista e tão modernamente sintomática, se digna a compreender o gesto de Santana Lopes «no plano humano», outorgando-lhe, entanto e inevitavelmente, «o sentido involuntariamente pueril».
Porque o João Lopes identifica, do alto das suas virtudes, as intenções, os podres e as incompreensões da contemporaneidade, os gestos de Santana Lopes e Mika Brzezinski divergem nesse mesmo plano: no seu solipsismo.
L.F.

Leonel Ferreira,
Creio que as “premissas suprimidas” aju-dariam a esclarecer onde pretende chegar, sobretudo porque suprimem também todas as premissas do que escrevi.
A frase «o próprio Santana Lopes bem sabe como tudo isso funciona» surge no interior de uma argumentação que a sua citação isolada não contempla. Desde logo, porque não pode ser desligada do seu contexto mais imediato. Ou seja: “Aliás, o próprio Santana Lopes bem sabe como tudo isso funciona: não há muito tempo, tentava ele legitimamente lutar pela sua sobrevivência política e era todos os dias (sublinho: todos os dias) achincalhado pela mesma multidão que agora vê nele o salvador da pátria...”
O “caso Brzezinski” não tem qualquer semelhança com o “caso Santana Lopes”: seja o que for que pensarmos sobre a sua atitude, Mika Brzezinski estava a manifestar publicamente o que pensava sobre critérios da própria empresa (um canal de televisão) onde trabalha.
Se me considera um arrogante que se expressa “do alto das suas virtudes”, não deve ficar surpreendido com a “complacência” e a “condescendência” que me atribui. Deduzo que sabe bem como tudo isso funciona.
J.L.