Vale a pena continuar a reflexão em torno do recente episódio televisivo protago-nizado por Santana Lopes, quando decidiu abandonar uma situação de entrevista na SIC Notícias. Vale a pena, sobretudo, co-meçar por observar a insólita desproporção de tudo isto.
Por um lado, o país é diariamente massacrado por programas televisivos que estão, há anos e anos, a formatar gostos, olhares e formas de consumo. Em quê? Em boa verdade, em tudo: da normalização telenovelesca das ficções à exploração pornográfica do fait divers mais ou menos sanguinário, as televisões aceitaram transformar-se, muitas vezes, em paradas de monstruosidades que ferem a mais básica dignidade humana e promovem a insensibilidade e a anti-inteligência. Por outro lado, os notáveis da política, da economia e, hélas!, da gestão cultural primam pelo silêncio em relação a tal conjuntura — no caso dos profissionais da cena política, há mesmo uma indiferença quase total em relação à discussão do poder efectivo (tema político, por excelência) que as televisões adquiriram na gestão dos valores sociais e éticos.
É neste contexto que a atitude de Santana Lopes tende a ser reduzida a um heroísmo patético e maniqueísta: ele teria feito frente ao "papão" televisivo. O mais absurdo disto tudo é que semelhante "heroicização" decorre de um sistema de valores banalmente televisivo. Como quando o Marco do Big Brother deu o seu mítico pontapé — a televisão tornou-se uma máquina de entronização do fait divers; basta alguém fazer algo de atípico para ser transformado em centro da vida social e mediática. Aliás, o próprio Santana Lopes bem sabe como tudo isso funciona: não há muito tempo, tentava ele legitimamente lutar pela sua sobrevivência política e era todos os dias (sublinho: todos os dias) achincalhado pela mesma multidão que agora vê nele o salvador da pátria...
Por um lado, o país é diariamente massacrado por programas televisivos que estão, há anos e anos, a formatar gostos, olhares e formas de consumo. Em quê? Em boa verdade, em tudo: da normalização telenovelesca das ficções à exploração pornográfica do fait divers mais ou menos sanguinário, as televisões aceitaram transformar-se, muitas vezes, em paradas de monstruosidades que ferem a mais básica dignidade humana e promovem a insensibilidade e a anti-inteligência. Por outro lado, os notáveis da política, da economia e, hélas!, da gestão cultural primam pelo silêncio em relação a tal conjuntura — no caso dos profissionais da cena política, há mesmo uma indiferença quase total em relação à discussão do poder efectivo (tema político, por excelência) que as televisões adquiriram na gestão dos valores sociais e éticos.
É neste contexto que a atitude de Santana Lopes tende a ser reduzida a um heroísmo patético e maniqueísta: ele teria feito frente ao "papão" televisivo. O mais absurdo disto tudo é que semelhante "heroicização" decorre de um sistema de valores banalmente televisivo. Como quando o Marco do Big Brother deu o seu mítico pontapé — a televisão tornou-se uma máquina de entronização do fait divers; basta alguém fazer algo de atípico para ser transformado em centro da vida social e mediática. Aliás, o próprio Santana Lopes bem sabe como tudo isso funciona: não há muito tempo, tentava ele legitimamente lutar pela sua sobrevivência política e era todos os dias (sublinho: todos os dias) achincalhado pela mesma multidão que agora vê nele o salvador da pátria...
Na prática, isto apenas reforça o vazio de pensamento face à conjuntura televisiva. Encore un effort...