> Esta é a terceira parte de um texto — intitulado 'A RTP, o país, a sua tele-visão e o futuro dela' — publicado na revista "6ª" (Diário de Notícias), de 2 de Março de 2007.
Os números das audiências (naturalmente dominados pelos programas que os canais generalistas decidem colocar nos respectivos horários nobres) quase só têm um valor publicitário — afinal de contas, é por eles e através deles que são geridos os investimentos dos anunciantes. Na prática, mesmo a mais básica constatação sociológica permite entender que se está a disseminar um crescente efeito de saturação, resultante de um estilo de fazer televisão que já não sabe que fórmulas “inventar” para garantir a repetição do esquema de “telenovelas+concursos” que passou a fazer escola em Portugal. E a expressão fazer escola, mais do que nunca, deverá ser tomada à letra: para grande parte da população portuguesa, a televisão continua a ser a única instituição cultural de (des)entendimento do mundo à sua volta.
Neste contexto, mais do que nunca, o papel da RTP é — ou poderia ser — decisivo. Num sentido muito preciso: o de mostrar, pela prática, isto é, pelas opções de programação, que é possível fazer uma televisão abrangente e genuinamente popular sem ceder à banalização humana e ao esvaziamento artístico promovidos por muitos registos instalados pelos canais privados.
Aliás, essa possibilidade seria tanto mais interessante quanto poderia introduzir uma componente realmente inovadora num universo, também ele, cada vez mais estreito e estratificado nas suas opções de fundo: o da publicidade e do marketing. Assim, com inevitável prejuízo do seu alcance e dos seus clientes, as estratégias dominantes da publicidade em televisão continuam a viver também segundo modelos remotos e anquilosados, conferindo pouca atenção às cada vez maiores franjas de público(s) para quem o horário nobre das televisões passou a ser algo a evitar.
Claro que, à RTP, não podem ser pedidas responsabilidades unilaterais neste estado de coisas ou na sua alteração. Como é fácil perceber, não haverá mudanças sensíveis no panorama mediático português sem novos conceitos de programação, mecanismos mais ousados de marketing e também sem que a classe política, em geral, consiga superar a sua militante indiferença pela degradação cultural imposta por muitas formas contemporâneas de fazer televisão.
Também por isso, à RTP não bastará a (legítima) nostalgia que decorre do seu meio século de existência: o futuro da televisão em Portugal poderá ser melhor ou pior, mas não se fará, seguramente, da mera reciclagem de programas antigos e estilos desgastados. Não se fará, sobretudo, do verniz garantido pela integração de novas tecnologias. Isto porque as tecnologias podem mudar o visual televisivo, mas são os seres humanos que criam os seus conteúdos. E também as suas formas.
Os números das audiências (naturalmente dominados pelos programas que os canais generalistas decidem colocar nos respectivos horários nobres) quase só têm um valor publicitário — afinal de contas, é por eles e através deles que são geridos os investimentos dos anunciantes. Na prática, mesmo a mais básica constatação sociológica permite entender que se está a disseminar um crescente efeito de saturação, resultante de um estilo de fazer televisão que já não sabe que fórmulas “inventar” para garantir a repetição do esquema de “telenovelas+concursos” que passou a fazer escola em Portugal. E a expressão fazer escola, mais do que nunca, deverá ser tomada à letra: para grande parte da população portuguesa, a televisão continua a ser a única instituição cultural de (des)entendimento do mundo à sua volta.
Neste contexto, mais do que nunca, o papel da RTP é — ou poderia ser — decisivo. Num sentido muito preciso: o de mostrar, pela prática, isto é, pelas opções de programação, que é possível fazer uma televisão abrangente e genuinamente popular sem ceder à banalização humana e ao esvaziamento artístico promovidos por muitos registos instalados pelos canais privados.
Aliás, essa possibilidade seria tanto mais interessante quanto poderia introduzir uma componente realmente inovadora num universo, também ele, cada vez mais estreito e estratificado nas suas opções de fundo: o da publicidade e do marketing. Assim, com inevitável prejuízo do seu alcance e dos seus clientes, as estratégias dominantes da publicidade em televisão continuam a viver também segundo modelos remotos e anquilosados, conferindo pouca atenção às cada vez maiores franjas de público(s) para quem o horário nobre das televisões passou a ser algo a evitar.
Claro que, à RTP, não podem ser pedidas responsabilidades unilaterais neste estado de coisas ou na sua alteração. Como é fácil perceber, não haverá mudanças sensíveis no panorama mediático português sem novos conceitos de programação, mecanismos mais ousados de marketing e também sem que a classe política, em geral, consiga superar a sua militante indiferença pela degradação cultural imposta por muitas formas contemporâneas de fazer televisão.
Também por isso, à RTP não bastará a (legítima) nostalgia que decorre do seu meio século de existência: o futuro da televisão em Portugal poderá ser melhor ou pior, mas não se fará, seguramente, da mera reciclagem de programas antigos e estilos desgastados. Não se fará, sobretudo, do verniz garantido pela integração de novas tecnologias. Isto porque as tecnologias podem mudar o visual televisivo, mas são os seres humanos que criam os seus conteúdos. E também as suas formas.