Eis uma peripécia cognitiva que as noites eleitorais normalizaram. Assim, nos primeiros momentos, surgem as previsões da percentagem de abstencionistas. Desta vez (mais uma vez), todas as fontes apontam para uma mesma hipótese: os que não votaram poderão ser metade dos eleitores portugueses.
Durante alguns minutos, algumas (poucas) vozes mostram a sua preocupação, por vezes avançando mesmo com um cliché conhecido: "As abstenções podem atingir um valor histórico." Encerrada esta performance, o facto desaparece rapidamente de qualquer actualidade informativa, não se fala mais no assunto e ficamos todos a aguardar um ou dois anos (até ao próximo acto eleitoral) para voltar a olhar o imponderável grafismo: 50%.
Como pensar esta brevíssima ansiedade? Talvez começando por um dado objectivo: o fenómeno é cíclico, quer dizer, passou a ser integrado como elemento "natural" da nossa vida política — pensemos em 2011, por exemplo.