segunda-feira, julho 05, 2021

Amazon/MGM
— Hollywood já não é o que era [3/3]

A Metro Goldwyn Mayer foi comprada por Jeff Bezos, patrão da Amazon: o estúdio possui um património imenso, de clássicos como E Tudo o Vento Levou até aos filmes de James Bond — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 junho).

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Não por acaso, a “franchise” James Bond foi muito citada nas notícias da aquisição da MGM pela Amazon. Desde logo, porque 007: Sem Tempo para Morrer, 25º título oficial da saga do agente secreto, aguarda estreia há mais de um ano (o seu lançamento global está agora agendado para setembro/outubro); depois, porque não parece possível que, para futuros títulos de 007, os elementos da família Broccoli que controlam a respectiva produção abdiquem de considerar Bond como um produto específico das salas de cinema.
Tendo em conta a imensidão da filmoteca da MGM, e apesar do potencial de lucro dos filmes de 007, esse parece ser apenas um pormenor. É certo que a história da propriedade do estúdio no último meio século tem sido, no mínimo, instável, envolvendo peripécias mais ou menos agitadas como a sua compra pelo multimilionário Kirk Kerkorian, a aquisição da United Artists (foi, durante algum tempo, a MGM/UA) e até um período em que uma parte do seu catálogo de clássicos pertenceu ao fundador da CNN, Ted Turner. De qualquer modo, a Prime Video passa a ter inusitadas hipóteses de programação. Como disse Bezos, numa reunião com os accionistas a 26 de maio, trata-se de “reimaginar e desenvolver” para o século XXI o catálogo da MGM.
Afinal de contas, para lá de James Bond, a Amazon passa a controlar as “franchises” de Rocky (incluindo as sequelas Rocky/Creed em que Sylvester Stallone continua a participar), Hobbit (que Peter Jackson realizou na sequência de O Senhor dos Anéis), RoboCop (“thriller” de ficção científica iniciado por Paul Verhoeven) e A Pantera Cor de Rosa (paródia policial com Peter Sellers). Isto sem esquecer uma avalanche de títulos muito populares que inclui, por exemplo, Os Sete Magníficos (1960), O Silêncio dos Inocentes (1991) e Quatro Casamentos e um Funeral (1994).
Recuando aos tempos clássicos, a MGM emerge também como o estúdio que manteve a mais sofisticada unidade de produção de filmes musicais, dirigida por Arthur Freed, contando com talentos como Judy Garland, Fred Astaire ou Gene Kelly; entre as suas obras-primas podemos encontrar Um Americano em Paris (1951), de Vincente Minnelli, Serenata à Chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, ou Brigadoon (1954), também de Minnelli. Sem esquecer que, ainda antes, nomeadamente nas décadas de 30/40, a MGM teve sob contrato nomes como Greta Garbo, Clark Gable, Johnny Weissmuller, Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Ava Gardner e Cyd Charisse.
De uma maneira ou de outra, um capítulo fundamental da história e das lendas de Hollywood vai passar a ser matéria de eleição na vasta paisagem, realmente planetária, das plataformas de streaming. No seu programa da CBS, The Late Show, Stephen Colbert lembrou mesmo que Bezos passa a ser proprietário da série The Apprentice, da qual alegadamente existem gravações, nunca emitidas, com comentários racistas do seu protagonista, Donald Trump… Eis um excelente extra, sugeriu Colbert, para uma reedição em DVD.