Fado, História d'uma Cantadeira (1947), de Perdigão Queiroga, pode servir de exemplo do academismo de que, nas décadas de 60/70, os autores do Cinema Novo viriam a demarcar-se. Sem dúvida. Mas importa também não ceder a essa banal história de "contrastes" que, hoje em dia, domina a percepção mediática de todas as componentes da história de Portugal, do cinema à política (com execpção do futebol, sempre glorioso, universal e obrigatoriamente redentor). De facto, há todo um imaginário popular que não pode ser dissociado de filmes como Fado, História d'uma Cantadeira e, muito em particular, desse essencial cognome de Amália: cantadeira. O trabalho do documentário Eu, Amália envolve também uma pedagógica revalorização de tal classificação — popular, sem ser populista; universal, sem se diluir no simbolismo pantanoso da world music. Nessas memórias cruzadas, Os Amantes do Tejo (1954), produção francesa dirigida por Henri Verneuil, com Amália "no seu próprio papel", é outra referência esclarecedora — eis o trailer original.
— Documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta
— Produção: Inovação RTP
— RTP1: dia 23, 21h00.