sábado, setembro 08, 2018

Netflix triunfa no Festival de Veneza

No canto inferior direito do cartaz do novo filme do mexicano Alfonso Cuáron, Roma, pode ler-se: "Brevemente em salas seleccionadas e na Netflix". Que salas? Como é que a plataforma digital vai gerir a exposição pública de um objecto tão especial que ostenta a sua chancela de produção?
Tais dúvidas (mesmo que atribuamos um sentido eminentemente positivo à palavra dúvidas) surgem agora multiplicadas por uma proeza muito especial: Roma arrebatou o Leão de Ouro da 75ª edição do Festival de Veneza. Isto poucos meses passados sobre o conflito entre a Netflix e a direcção do Festival de Cannes, conflito motivado pelo facto de a plataforma não querer dar garantias prévias de exibir os seus filmes nas salas escuras — de tal modo que a Netflix, pura e simplesmente, retirou-se da última edição do certame da Côte d'Azur (isto, recorde-se, depois de uma polémica presença na edição de 2017).
Uma coisa é certa: todas estas peripécias são sintomáticas das alterações em curso nos modos de difusão dos objectos cinematográficos. E se é verdade que não faz sentido demonizar as imensas possibilidades de acesso digital aos filmes, hoje em dia disponíveis, não será menos verdade que, mais do que nunca, as entidades que gerem as salas devem reflectir cuidadosamente sobre o que está a acontecer.
Entretanto, vale a pena acrescentar que outra produção da Netflix, The Ballad of Buster Scruggs, dos irmãos Coen, também foi distinguida em Veneza, com o prémio de argumento — palmarés completo disponível no site do festival.