Cannes 2018 teve um balanço tão interessante quanto perturbante. Três momentos da cerimónia de encerramento podem condensar os seus contrastes:
— Palma de Ouro para Une Affaire de Famille, de Hirokazu Kore-eda, filme deste tempo, subtil e crítico, sem ceder à vaga "política" que até podia ter transformado o festival num "comício" artístico: o júri não o permitiu e, em boa verdade, os filmes também não favoreceram tal esquematismo.
— uma Palma de Ouro Especial para Jean-Luc Godard, presente na competição com o luminoso Le Livre d'Image; como disse Cate Blanchett, presidente do júri, tratou-se de homenagear um artista que tem contribuído de modo exemplar para “definir e redefinir o que é o cinema”.
— o discurso de Aria Argento que, ao apresentar um dos prémios, utilizou a breve tribuna para lembrar o que lhe aconteceu em Cannes, em 1997, tinha 21 anos: “Fui violada aqui por Harvey Weinstein"; apontado para a assistência, acrescentou que há ainda cúmplices “sentados entre vocês”, concluindo: “Sabemos quem são, não vamos permitir que vivam na impunidade”.
Isto sem esquecer, para além de Le Livre d'Image, mais dois títulos de 5 estrelas: BlacKkKlansman, de Spike Lee, e Le Poirier Sauvage, de Nuri Bilge Ceylan.
>>> Palmaré no site oficial do Festival de Cannes.