Gene Roddenberry |
O universo Star Trek surge em mais uma derivação televisiva — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 Setembro), com o título 'Formatos e formatações'.
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Para o melhor e para o pior (infelizmente, quase sempre para o pior), o espaço audiovisual contemporâneo consagrou a ideia de “franchise” — trata-se, afinal, de aplicar um método que visa a infinita reprodução de um determinado sucesso financeiro. No caso dos restaurantes ou do guarda-roupa, a “franchise” sustenta-se, em princípio, através da repetição das mesmas receitas e modelos. Com os filmes e as séries de televisão, as coisas complicam-se um pouco mais: é preciso saber variar as histórias que se contam, mesmo quando há personagens e elementos dramáticos que não podem ser alterados.
No interior deste universo de repetições e variações, o caso Star Trek é tanto mais importante quanto a sua folha de rendimentos é, de facto, impressionante: em meados de 2016, tinha acumulado 10 mil milhões de dólares de receitas (incluindo séries televisivas, filmes, uma série de animação, livros e jogos de vídeo). Seja qual for o nosso envolvimento com os seus objectos e a sua peculiar mitologia, o mundo criado por Gene Roddenberry (1921-1991) ilustra a proeza de se ir expandindo ao longo de meio século, conseguindo transferir-se do imaginário de uma geração para a geração seguinte.
Nesta perspectiva, não podemos deixar de reconhecer que os formatos e formatações de uma determinada “franchise” favorecem também alguma normalização do próprio público consumidor. Os resultados artísticos poderão ser “melhores” ou “piores” (não é isso que está em causa) mas, hoje em dia, muitos sectores do mercado audiovisual estão concebidos para a reprodução psicológica do próprio público. Como se ser espectador fosse apenas pertencer a um “clube” de admiradores. Convenhamos que, em tal sistema, a diversidade de olhares e pensamento não é uma prioridade.