quinta-feira, novembro 10, 2016

Raoul Coutard (1924 - 2016)

Companheiro essencial na aventura da Nova Vaga francesa, é um dos génios absolutos da história da fotografia em cinema: o francês Raoul Coutard faleceu no dia 8 de Novembro, em Labenne, perto de Bayonne — contava 92 anos.
Coutard começou por estudar química e, mesmo quando começou a trabalhar como repórter fotográfico, na guerra francesa da Indochina, em finais dos anos 40, não se imaginava como director de fotografia. A primeira vez que assumiu tal função, em La Passe du Diable (1958), de Pierre Schoendoerffer, tudo resultou, segundo as suas próprias palavras, de um equívoco: quando o contrataram, pensou que era apenas para fazer fotografias de rodagem...
O encontro com Jean-Luc Godard revelou-se decisivo, desde logo com O Acossado (1959), um dos títulos fundadores da Nova Vaga. Trabalhou em quase todos os seus filmes, até Fim de Semana (1967), incluindo Viver a sua Vida (1962) e Pedro o Louco (1965), combinando uma espantosa atenção às nuances da luz natural com uma admirável agilidade de tratamento dos formatos largos (CinemaScope, etc.); nesse aspecto, O Desprezo (1963) constitui uma referência central, não apenas na sua filmografia, mas, em boa verdade, em todo o cinema europeu da década de 60. François Truffaut, por exemplo em Jules e Jim (1962), e Jacques Demy, para quem fotografou Lola (1961), foram outros nomes emblemáticos da produção francesa com que colaborou. Reencontrou Godard para rodar Paixão (1982) e Nome Carmen (1983). Entre as cerca de sete dezenas de títulos em que assinou a fotografia, incluem-se, por exemplo, The Sailor from Gibraltar (1967), de Tony Richardson, A Confissão (1970), de Costa-Gavras, e Max, Meu Amor (1986), de Nagisa Oshima.
Por razões conjunturais, é habitual o seu trabalho ser sobretudo associado às nuances do preto e branco. Em qualquer caso, vários dos exemplos apontados (e muitos outros...) testemunham a riqueza da sua paleta cromática, não poucas vezes associada a complexos movimentos de câmara. Curiosamente, já na década de 90, através da sua colaboração com Philippe Garrel, em La Naisssance de l'Amour (1993), regressou ao preto e branco.
Realizou três filmes, o primeiro dos quais, Hoa-Binh (1970), sobre a vida de um rapaz durante a guerra do Vietname, lhe valeu o Prémio Jean Vigo. Em 1997, a American Society of Cinematographers, homenageou-o com o seu prémio honorário internacional.

O ACOSSADO (1959), de Jean-Luc Godard
LOLA (1961), de Jacques Demy
ANGÚSTIA (1964), de François Truffaut
FIM DE SEMANA (1967), de Jean-Luc Godard
A NOIVA ESTAVA DE LUTO (1968), de François Truffaut
NOME CARMEN (1983), de Jean-Luc Godard
LA NAISSANCE DE L'AMOUR (1993), de Philippe Garrel
>>> Genérico de O Desprezo (1963) — a voz é de Jean-Luc Godard; à câmara está Raoul Coutard.


>>> Obituário: Libération + New York Times.
>>> Entrevista ao jornal The Guardian (2001).
>>> Sobre a retrospectiva do seu trabalho, em 2007, na Cinemateca Francesa.