I. Há qualquer coisa de intolerância num certo tipo de protestos contra a eleição de Donald Trump. Dir-se-ia que, com a conivência dos meios de (des)informação que parecem ver o mundo como uma repetição infinita dos sinais mais visíveis das versões mais pueris de Maio 68, só nos resta demonizar a personagem e, seja por que meio for, repor a verdade das coisas.
II. A verdade? Mas qual é, então, essa verdade — e de que coisas?
III. Claro que este tipo de dúvidas não conta com o beneplácito do populismo jornalístico que precisa (?) de representar o mundo como uma teia sempre maniqueísta, sempre bélica. No limite, quando se questiona a legitimidade de Trump Presidente, aquilo que se banaliza, porventura recusa, são as próprias bases de funcionamento da Democracia.
IV. Claro também que nada disto decorre de qualquer santificação de uma personalidade tão inquietante (a meu ver, politicamente inquietante) como a de Trump — acontece que podemos pensar contra o seu discurso sem que isso implique qualquer dúvida sobre a validade dos preceitos democráticos [foi isso que fez, exemplarmente o ainda Presidente Barack Obama — ver video].
V. Resta saber se o abalo político, ideológico e simbólico de que Trump é, afinal, apenas o sinal mais visível vai ser mediaticamente vivido apenas através de soundbytes e gritos mais ou menos estridentes — resta saber que jornalismo temos para lidar com as perturbações que nos assaltam.