Dois olhares que não se procuram... Quando revemos o primeiro debate entre Donald Trump e Hillary Clinton [CNN], a percepção de cada imagem (ou frame, na gíria televisiva) conta uma história desconcertante, inevitavelmente reveladora. De facto, eles não estão a dialogar. Num certo sentido, nem sequer se estão a ver — estão apenas a tentar encontrar a pose certa para conquistar aquele ecrã dividido num irrecusável dualismo. Clinton, perspicaz, apontou o modo como o candidato republicano "vive na sua própria realidade".
Inteligência de Clinton: essa convocação para uma outra realidade será, talvez, uma maneira de contrariar a visão estupidamente anedótica de Trump construída, ao longo de meses, pela irresponsabilidade de muitos meios de comunicação (televisivos, antes do mais). Resta saber que realidade se edifica, assim, aos olhos dos espectadores/eleitores — dir-se-ia que a televisão passou a ser um palco de conflitos duais (o risco ao meio arrasta um poder metafórico sem alternativa) em que o diálogo é um código, mas não um desejo.