Numa fascinante série de imagens para a marca Diesel (Outono/Inverno), o fotógrafo americano Terry Richardson propõe um conjunto de poses mais ou menos esotéricas, burlescas ou dançantes, devidamente acompanhadas por uma legenda numerada — trata-se de criar um efeito simbólico, como se um pequeno conto moral tivesse sido fixado numa imagem publicitária [o video produzido com o portfolio, aqui em baixo, é revelador do misto de teatro e irrisão que o trabalho envolveu]. No interior da série, #5 love openly constitui uma pequena obra-prima de silencioso erotismo — desse silêncio que, justamente, só o amor pode acolher.
A modelo Abby Brothers surge numa pose maternal, algo inquieta, mas sem mascarar a sua inquietação (o que redobra a intensidade, a indizível inocência, da pose). Nesta lógica discursiva, a criança que Abby segura é, obviamente, o primeiro cliente do produto publicitado: repare-se como as suas comoventes jeans são a festiva confirmação de uma precoce vocação para o consumo.
Em todo o caso, nada disso esgota a transparência paradoxal, porque enigmática, da imagem. Será o olhar branco de Abby, resistindo a qualquer dos clichés maternais que a imprensa cor-de-rosa injecta todos os dias no nosso quotidiano, no fundo menosprezando as singularidades de ser mãe e ser filho? É um olhar cândido, de candura realmente alheia a qualquer modo de celebração ou culpa, mas creio que a "chave" da cena está no braço do bebé que cobre o seio esquerdo de Abby. Detectamos nele um gesto de pura contiguidade vital, como se a imagem fluísse, ou melhor, nos convocasse a partir do toque invisível das duas peles, porventura consagrando a noção de punctum que Roland Barthes gostava de enaltecer nas fotografias que o mobilizavam — o punctum como "picada, pequeno buraco, pequena mancha, pequeno golpe" que confirma e desafia a intensidade da matéria registada. Enfim, a imagem como coisa que nos ensina a compreender que o nosso desejo está condenado ao infinito do instante.