CENAS DA VIDA CONJUGAL (1973) |
Grande acontecimento em DVD, depois da exibição em Lisboa e Porto (e mais algumas cidades): a edição de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.
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A noção de espaço familiar — que é também uma noção familiar de espaço — atravessa todo o universo bergmaniano. Veja-se esta foto de rodagem (assinada por Lars Karlsson) de Cenas da Vida Conjugal: Liv Ullmann dialoga com Bergman enquanto Sven Nykvist mede a luz; à esquerda, na base da imagem, Erland Josephson é apenas um corpo em pose de escuta, mas não deixamos de reconhecer que não é um intruso — bem pelo contrário, a sua pose é de absoluta integração no artifício global do trabalho. Tudo acontece numa paisagem de absoluta proximidade em que, nos rituais desse trabalho como mais tarde no material filmado, reconhecemos uma intensidade emocional que arrasta um imenso poder de revelação. Além do mais, deixemo-nos de tretas modernistas: muito antes de cedermos à moda de dizer que a televisão "ascendeu" aos temas adultos, Bergman dirigia este projecto no formato de mini-série (6 episódios), depois transformado em longa-metragem de cinema — não faz sentido esquecê-lo, apenas porque cometeu o "erro" de ter pensado nisso com duas ou três décadas de avanço.