sexta-feira, abril 10, 2015

Memórias de Ingrid Bergman (2/2)

SONATA DE OUTONO (1978)
Liv Ullmann e Ingrid Bergman
Reencontramos Ingrid Bergman através do olhar de Rossellini, mas vale a pena recordar a amplitude e diversidade da sua filmografia — este texto integrava um dossier sobre a actriz, publicado no Diário de Notícias (28 Março), com o título 'Quando Bergman encontrou Bergman'.

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As duas maiores exportações cinematográficas da Suécia partilham o mesmo apelido. O certo é que, durante longos anos, Ingrid Bergman e Ingmar Bergman (nenhuma relação familiar) alimentaram a ideia de trabalharem juntos, mas sem resultados práticos.
Segundo o livro de memórias do realizador, foi no Festival de Cannes, em 1973, na projecção de Lágrimas e Suspiros, que a actriz lhe relembrou essa possibilidade. E da maneira mais insólita: ao cumprimentá-lo, meteu-lhe uma carta no bolso, recordando o seu sonho adiado.
INGMAR BERGMAN
(1918-2007)
Em boa verdade, pelo menos de acordo com as palavras de Ingmar Bergman, a experiência esteve mais próxima do pesadelo. Desde logo porque, na sequência de problemas com o fisco, o cineasta estava a viver um exílio artístico que já dera origem a O Ovo da Serpente (1977), uma produção de Dino de Laurentiis rodada na Alemanha. Depois porque Ingrid Bergman esteve longe de satisfazer os pressupostos do autor, a ponto de este considerar que “ela estava ainda a viver nos anos 40”, começando por ensaiar o seu papel “ao espelho”, criando entoações redundantes... Ingmar não hesita mesmo em destacar a frase de Ingrid que mais lhe agradou: “Se não me disser como devo representar esta cena, dou-lhe um estalo na cara!”
Hélas! A história dos filmes não se faz apenas com as palavras daqueles que os fabricaram. E o mínimo que se pode dizer é que o resultado da agitada sociedade Bergman & Bergman — Sonata de Outono (1978), uma produção rodada na Noruega, com financiamentos alemães e britânicos — supera todo aquele cepticismo. Ao retratar o reencontro de uma consagrada pianista com a filha de quem sempre foi distante, Sonata de Outono encena uma teia de amor e desamor, entrega emocional e traição afectiva, que está longe de ser estranha ao desencantado intimismo de títulos como A Hora do Lobo (1968) ou Paixão (1969). Isto sem esquecer, claro, que a intérprete da filha é Liv Ullmann, um dos símbolos maiores do universo bergmaniano.
Depois, a actriz apenas surgiu em A Woman Called Golda (1982), telefilme biográfico sobre Golda Meir, realizado por Alan Gibson, tendo Sonata de Outono ficado como o seu derradeiro trabalho cinematográfico. Sofrendo de cancro na mama, Ingrid Bergman viria a falecer em Londres, a 29 de Agosto de 1982 — foi também o dia do seu 67º aniversário.