terça-feira, agosto 12, 2014

Na intimidade da espionagem (2/3)

O Homem Mais Procurado (2014)
O derradeiro filme rodado por Philip Seymour Hoffman, O Homem Mais Procurado, dirigido por Anton Corbijn, é uma pequena grande proeza de adaptação de um romance de John le Carré — estes textos sobre a respectiva génese integravam um dossier publicado no Diário de Notícias (8 Agosto).

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Quando ganhou o Oscar de melhor actor — pela composição da figura do escritor Truman Capote no filme Capote (2005), de Bennett Miller —, Philip Seymour Hoffman já não era um desconhecido. Nascido em 1967, conseguira mesmo impor-se como um dos mais sofisticados talentos revelados ao longo dos anos 90.
Foi Perfume de Mulher (1992), o filme de Martin Brest que valeu um Oscar a Al Pacino, que lançou a sua carreira. Ao compor a personagem de um estudante de duvidosa integridade moral, Hoffman dava provas de uma intensidade dramática que, a pouco e pouco, lhe valeria papéis cada vez mais complexos.
Jogos de Prazer (1997), sobre os bastidores do cinema pornográfico no final da década de 70, foi outro momento decisivo, até porque assinalou o encontro com o cinema de Paul Thomas Anderson. Sob a sua direcção, surgiria ainda em Magnólia (1999), Embriagado de Amor (2002) e The Master – O Mentor (2012). Este último, valeu-lhe uma das suas três nomeações para o Oscar de melhor actor secundário; as outras foram por Jogos de Poder (2007), farsa política dirigida por Mike Nichols, com Tom Hanks e Julia Roberts, e Dúvida (2008), drama no interior de uma escola católica, com Meryl Streep e Amy Adams, realizado por John Patrick Shanley.
Hoffman moveu-se com grande à vontade em géneros muito contrastados. Vimo-lo interpretar um crítico de música rock em Quase Famosos (2000), de Cameron Crowe, ou ao lado de Tom Cruise, vivendo as convulsões de Missão Impossível 3 (2006); vimo-lo também, por exemplo, a contracenar com Ethan Hawke numa tragédia familiar em que dois irmãos decidem roubar os próprios pais — chamava-se Antes que o Diabo Saiba que Morreste e seria a última realização de Sidney Lumet.
Uma das derradeiras composições de Hoffman foi Plutarch Heavensbee, na saga juvenil The Hunger Games: Em Chamas (2013). Retomou a personagem nos dois títulos que ainda permanecem inéditos: Mockingjay – Parte 1 estreará em Novembro deste ano, estando a segunda parte prevista para o final de 2015.

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Foi no ano de 1963, com o seu terceiro livro, O Espião que Saíu do Frio, que John le Carré se tornou um escritor de sucesso. De tal modo que decidiu abandonar a sua actividade nos serviços secretos britânicos (passara pelos departamentos do MI5 e MI6), dedicando-se por inteiro à escrita. O cinema tem sido um aliado regular das suas histórias, a começar, precisamente, por aquele romance, adaptado em 1965, numa realização de Martin Ritt, com Richard Burton.
De qualquer modo, das versões filmadas dos livros de John le Carré, a mais famosa será a série televisiva Tinker Tailor Soldier Spy, de 1979 (o romance surgira em 1974), com Alec Guinness no papel do lendário George Smiley, oficial do MI6. Guinness retomaria a personagem noutra série, Smiley’s People (1982, romance de 1979). Recentemente, Tinker Taylor Soldier Spy foi objecto de uma adaptação cinematográfica dirigida pelo sueco Tomas Alfredson, com Gary Oldman no papel de Smiley — chamou-se, entre nós, A Toupeira (2011).
De todas as adaptações de John le Carré, a mais premiada, O Fiel Jardineiro (2005, romance de 2001) tem assinatura do brasileiro Fernando Meirelles; com Ralph Fiennes e Rachel Weisz, valeu a Weisz um Oscar de melhor actriz secundária e ainda, na mesma categoria, um Globo de Ouro e um prémio da Screen Actors Guild.
Entretanto, a versão cinematográfica do penúltimo livro do autor, Our Kind of Traitor (2010), está agendada para 2015, com Ewan McGregor no papel central, pertencendo a realização a Susanna White.