terça-feira, agosto 12, 2014

Robin Williams (1951 - 2014)

Robin Williams, actor tão versátil quanto popular ao longo de quatro décadas, foi encontrado morto na sua casa, em Tiburon, California, a 11 de Agosto — contava 63 anos.
A notícia de que Williams se terá suicidado [ver: The Hollywood Reporter] foi imediatamente associada ao facto de se saber que o actor atravessava um período de profunda depressão, estando a seguir um tratamento para manter a sobriedade, combatendo a herança da sua dependência de drogas. Pensando na sua persona artística, é também inevitável lembrar o modo como, nos seus melhores momentos, Williams soube expor as contradições mais fundas do ser humano, da dor mais radical ao riso aberto e devastador.
E se é verdade que a sua carreira ficou marcada por algumas escolhas não muito felizes — lembremos esse desastre de "efeitos especiais" que era Jumanji (1995), de Joe Johnston —, não é menos verdade que Williams conseguiu momentos de invulgar intensidade, desde logo na composição do psicólogo de Good Will Hunting/O Bom Rebelde (1997), o filme que lhe deu o seu único Oscar, na categoria de actor secundário [trailer].


Vimo-lo em universos muito diversos, desde a parábola poética de Clube dos Poetas Mortos (Peter Weir, 1989) até ao negrume de Câmara Indiscreta (Mark Romanek, 2002), passando pelo humor de Casa de Doidas (Mike Nichols, 1996), a teatralidade de As Faces de Harry (Woody Allen, 1997), ou a fantasia trágica de A. I. - Inteligência Artificial (Steven Spielberg, 2001). A sua versatilidade foi também uma forma de celebração dos contrastes do ser humano, por vezes emprestando às suas personagens um misto de crueza e compaixão profundamente envolvente.
O início da carreira de Williams, ligado ao timing da stand-up comedy, que aliás nunca deixou de praticar [video: "as origens do golfe"]e também à rapidez de execução dos produtos televisivos (participou, por exemplo, em 1977, em The Richard Pryor Show), trouxe-lhe a destreza de um actor sempre disponível para as mais ágeis e insólitas transfigurações. Por vezes, numa filmografia de mais de uma centena de títulos, Williams terá resvalado para a involuntária caricatura da sua própria capacidade de ziguezaguear entre todos os registos. Seja como for, na história moderna de Hollywood, ficará como símbolo exemplar das intensidades específicas do actor, impossíveis de reduzir a qualquer derivação técnica, porventura digital.


>>> Obituário no New York Times.