sábado, maio 24, 2014

Netflix disponível em 40 países

O sistema televisivo de difusão e aluguer da Netflix vai crescendo, desencadeando questões sobre as paisagens generalistas dos ecrãs caseiros — este crónica de televisão foi publicada na revista "Notícias TV", do Diário de Notícias (23 Maio), com o título 'A Netflix e os outros'.

Interessante notícia desta semana: a plataforma de difusão por aluguer Netflix, originária dos EUA, vai alargar a sua implantação a seis países europeus — a partir de finais de 2014, França, Alemanha, Áustria, Suíça, Bélgica e Luxemburgo vão também poder aceder aos respectivos serviços, incluindo filmes e séries de produção própria (tendo sido House of Cards o mais brilhante cartão de visita). Na prática, isto significa que a Netflix passa a estar disponível em 40 países, acumulando nada mais nada menos que 48 milhões de assinantes.
A notícia reforça uma ideia básica: no labirinto das televisões por cabo, a conjugação de uma estratégia inovadora de produção com uma lógica específica de difusão (os assinantes podem aceder, de imediato, a todos os episódios de uma determinada temporada de uma série) tornou-se um trunfo decisivo. Além do mais, tal ideia confirma — se tal ainda fosse necessário — que a noção do espaço televisivo como uma paisagem de canais generalistas “complementada” pela oferta de canais “especializados” é cada vez mais limitada, porventura inconsequente, para dar conta das dinâmicas de consumo que, hoje em dia, podem ser praticadas por qualquer espectador.
Tais nuances remetem para um problema estrutural que continua a ser “esquecido” por muitos agentes televisivos. Que é como quem diz: os métodos tradicionais de medição de audiências, mesmo de imaculada fiabilidade, tornaram-se inadequados, para não dizer obsoletos. É preciso criar condições técnicas e institucionais para que se compreenda o funcionamento de um quadro de consumo realmente novo.
No caso português, para que servem os números das audiências? Na melhor das hipóteses, sustentam os interesses das agências publicitárias, definindo os seus modos de ocupação dos tempos televisivos. Na pior, alimentam o discurso demagógico segundo o qual a dominação de determinados formatos (telenovela, concursos, reality TV) é apenas uma consequência dos... números. Porque é que algumas mentalidades tecnocráticas têm medo da própria evolução dos mercados?