domingo, abril 13, 2014

Um ciclo quase concluído


Eis que surge o décimo volume de uma das mais aclamadas “integrais” (ainda em construção) da obra sinfónica de Shostakovitch. Interpretadas pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, sob direção do russo Vasily Petrenko, estão já gravadas e editadas em disco 14 das 15 sinfonias que o compositor assinou entre 1924 e 1971, faltando apenas lançar um registo da Sinfonia Nº 13. Esta série, que Petrenko e a orquestra de Liverpool têm vindo a editar pelo catálogo da Naxos desde 2009 acolhe agora a Sinfonia Nº 14, originalmente estreada em 1969 e dedicada a Benjamin Britten, que a dirigiria numa interpretação no Reino Unido um ano após a sua primeira apresentação (na então Leninegrado), durante a edição de 1970 do festival de Aldeburgh. Mais próxima de uma ideia de ciclo de canções que do mais “tradicional” formato de uma sinfonia, a 14ª de Shostakovich parte de 11 poemas para deles fazer nascer uma obra orquestral e vocal. As palavras são assinadas por nomes como os de Frederico Garcial Lorca. Guillaume Apolinnaire, Wilhelm Küchelbecker e Rainer Maria Rilke, entre elas surgindo retratos e reflexões sobre a morte. Em 1969 o compositor descreveu a obra como uma luta pela libertação da humanidade, assim como “um protesto contra a morte e uma chamada de atenção para que se faça uma vida honesta, decente e nobre”. Tendo em mente, originalmente, a composição de uma oratória, Shostakovich acabaria por criar a partir destes poemas uma sinfonia para vozes, cordas e percussão. Nesta nova gravação Petrenko junta a si e à orquestra as vozes de Gal James (soprano) e Alexander Vinogradov (barítono), a estes cabendo um reencontro com as tradições dos textos para russo, tal e qual se escutou na estreia da sinfonia, em 1969.