domingo, abril 20, 2014
Do cinema para um piano
Habituámo-nos a escutar histórias de músicos que usaram as potencialidades das várias redes sociais para ganhar visibilidade e lançar carreiras, sendo o caso de Justin Bieber um exemplo de como o YouTube pode ser importante janela para primeira (grande) exposição. Este potencial de exposição não se limita apenas aos terrenos da música pop e há já exemplos no universo da música clássica de como, também aí, os músicos estão atentos às capacidades da tecnologia do seu tempo. O compositor Eric Whitacre, por exemplo, tem feito do seu coro criado via YouTube um dos pólos da sua atividade. Um outro caso chega-nos com a pianista ucrainiana Valentina Lisitsa. Nascida em Kiev em 1973 e com vida feita nos EUA desde inícios dos anos 90, Lisitsa lançou aí as bases de uma carreira. Ainda antes de ter um acordo editorial que lhe permitisse projetar uma discografia de exposição internacional começou a publicar vídeos seus no YouTube. Colocou o primeiro online em 2007, juntou depois os Études de Chopin e somou números impressionantes de visualizações. Ainda em terreno “faça-você-mesmo” juntou as poupanças suas e do marido para contratar a London Symphony Orchestra, com a qual gravou os concertos para piano de Rchmaninov, antes mesmo de chamar a atenção da Decca Classics, com quem acabaria por assinar. Depois de ter editado o Rachmaninov e obras de Liszt pela Decca, Valentina avança agora para um território que lhe pode garantir um cruzamento de públicos, chamando sobretudo a atenção de cinéfilos, de adeptos de bandas sonoras e, claro, admiradores de Michael Nyman. Com a sua mais interessante obra assinada para orquestra – e sobretudo explorando o trabalho de cordas e sopros – Michael Nyman começou por marcar a história da música com o seu trabalho crítico sobre as obras do seu tempo e cunhando o termo minimalista, que acabaria por ser também aplicado a alguma da sua música. Nos anos 80 a intensa parceria que desenvolveu com o cinema de Peter Greenaway deu-lhe visibilidade e ajudou-o a definir uma linguagem. Foi contudo com a banda sonora de O Piano, de Jane Campion, que gerou um fenómeno de sucesso, facto que explica porque, agora, esta pianista decide abordar a música para cinema de Nyman com o piano por protagonista. Em Chasing Pianos caminhamos entre transcrições de bandas sonoras de filmes como Gattaca de Andrew Niccol ou O Fim da Aventura de Neil Jordan, naturalmente com O Piano como prato principal. A interpretação é cuidada e bem adequada às obras aqui recolhidas. O alinhamento é ligeiro e agradável. Mas o melhor da música de Michael Nyman não passa por aqui.