1. Não, a palavra vingança não é metáfora. Está escrito com todas as letras no site do jornal Marca. Assim: "A hora de vingar o golo de Míchel". Qual é, então, a notícia? Aparentemente, será o facto de as selecções de futebol brasileira e espanhola irem jogar a final da Taça das Confederações (domingo, dia 30). Grande jogo em perspectiva, sem dúvida. Em todo o caso, no jornal Marca, parece haver quem não tenha especial empenho em promover o gosto do futebol, preferindo proclamar a hora da vingança... Uma tristeza jornalística que envolve um trágico esvaziamento moral do desporto. Ou seja: para antecipar o jogo, convoca-se um outro, realizado a 1 de Junho de 1986, durante a fase de grupos do Mundial do México!!!
2. E deixemo-nos de tretas filosóficas sobre a capacidade de, já nessa altura, as câmaras de televisão poderem vislumbrar com assinalável rigor alguns detalhes eventualmente vagos para o olhar humano... Claro que a bola rematada por Míchel entrou na baliza da equipa brasileira. Mas ninguém está a discutir isso. O que é incrível, e lamentável, é que 27 anos depois se faça jornalismo (?) evocando desta maneira um facto apenas sintomático do imponderável do futebol para sugerir e legitimar (!) uma vingança.
3. Quando se lembrarem de discutir a degradação de padrões de comportamento de alguns sectores do público, já agora não se esqueçam de considerar que há formas de jornalismo que, por certo, não invadem campos nem agridem árbitros, mas que contribuem activamente para construir uma imagem bélica do futebol — assim se vendem jornais e também o mais triste patriotismo.