Jools Holland é uma presença regular do canal iConcerts, mostrando o valor que a música pode ter em televisão — esta crónica foi publicada no Diário de Notícias (17 Maio), com o título 'Jools Holland e os outros'.
1. O programa da BBC, Later... with Jools Holland, é um caso exemplar de abertura à diversidade musical – ainda recentemente, lá pudemos ver, por exemplo, Radiohead e Ana Moura. Para além da sua metódica atenção a todo o espectro da música popular, Holland distingue-se pelo sóbrio entusiasmo das suas apresentações e também pela capacidade de, com alguns dos convidados, manter conversas em que o tom coloquial nunca favorece o pitoresco ou a banal exaltação da “fama”. No nosso contexto televisivo, Later... é também um caso modelar de um canal, iConcerts, apostado em valorizar as singularidades das performances ao vivo. Até certo ponto, a programação do iConcerts compensa o esvaziamento prático e simbólico da MTV, cada vez mais destruída pela cedência à mediocridade dos “reality shows”.
2. Com o prolongamento numa segunda temporada, poderia recear-se que Smash (TV Séries) sofresse os efeitos perversos de uma estratégia que não soubesse acautelar as suas especificidades. O certo é que a série criada por Theresa Rebeck (que conta com Steven Spielberg como um dos produtores executivos) vai continuando a narrar a odisseia de um musical sobre Marilyn Monroe, na Broadway, num tom que, sem abdicar das atribulações de uma elaborada teia melodramática, se mantém fiel ao seu elemento natural: a música. Num dos episódios, pudemos mesmo deparar com Liza Minnelli que, na qualidade de “guest star”, veio ajudar a lembrar que a energia de Smash se enraíza numa tradição riquíssima, indissociável do património musical de Hollywood.
3. Bósnia, Eslováquia, Portugal e Turquia assumiram uma heróica “resistência” à edição de 2013 do Festival da Canção da Eurovisão (cuja final se disputa este sábado): todos eles decidiram não participar. Efeitos práticos de tal retirada? Zero. Porquê? Porque estar ou não estar tende a confundir-se na mesma indiferença: estas festas “globais” reflectem uma triste falta de imaginação e fazem pela dinâmica da cultura popular europeia o mesmo que os mais empenhados discursos voluntaristas. Ou seja: nada, zero.