quarta-feira, abril 10, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Abel Soares Rosa

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras do Abel Soares Rosa, autor de livros sobre a discografia dos Beatles e dos Rolling Stones em Portugal e também do blogue Beatles Forever!. Ao Abel um muito obrigado pela colaboração.
Londres 77,

No tempo em que a música voltou a ser rebelde, fiz a viagem da minha vida, fui a Londres... 8 dias com os finalistas do Liceu Pedro Nunes, contava ainda com a companhia de amigos (e muitas amigas...) do Colégio Nuno Alvares em Tomar.

Foi glorioso, as olheiras não cabiam na Portela, 8 dias sem dormir, ao fim do terceiro, sublimes Van Der Graaf Generator ao vivo na Round House, ainda a corrida ao Marquee e Samantha’s, todos os dias!

Levava as poupanças de um ano, a Troika ainda não tinha invadido, a colecta familiar funcionou, só ia ao Hard Rock Café original e aos Wimpies, às lojas Jean Machine, e claro entrava naquelas sublimes discotecas de King’s Road, Notting Hill (Portobello Road), Soho, Wardour Street, Oxford Street, Carnaby Street, Berwick Street... nunca mais de lá saía! Enchia o saco (com o target mod) e depositava eufórico no banco do meu quarto (triplo, cabine de duche no meio do dito, andares separados pela alcatifa...) do Hotel Julius Cesar em Marble Arch. Na época as restrições na alfândega eram terríveis, acreditam que tudo quanto era bicho careta do Liceu, trazia toneladas de discos meus? Quando cheguei ao aeroporto de Lisboa parecia a Feira do Disco...

Comprei nessa viagem muitos dos discos da minha vida, podia referir centenas, mas duas merecem o top, a Rebel Music dos Sex Pistols e o famoso Never Mind The Bollocks, em pleno auge do punk, a foto que envio é a montra da Virgin original onde tal preciosidade foi adquirida, mas outra grande referência da minha vida musical, também foi feliz nessa viagem,  todos os LP dos Beatles, as edições originais inglesas (Mono e Stereo) compradas em várias das catedrais do Vinil londrino...


Outra das minhas lojas de Discos preferidas era a Intoxica (Portobello Road), do meu quase amigo Bill, ao longo da vida comprei por lá muitos discos e fiz outras tantas trocas magníficas. Bill era um especialista em Bob Dylan. Agora acho que só está Internet. Fiquei muito entusiasmado com uma edição de Moçambique (que não conhecia) de Highway 61 Revisited... Na ponta da troca lá veio mais uma raridade do Bowie, The Man Who Sold The World, a célebre capa com o vestido.

Esses dias londrinos foram a minha passagem iniciática para o rock’n’roll, a Virgin de finalistas do liceu... A demanda dos discos e das lojas que marcavam a diferença, a paixão da música.