quarta-feira, abril 10, 2013

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James Blake, Overgrown

James Blake 
"Overgrown"
Universal Music
5 / 5

Este texto é um excerto de um artigo originalmente publicado na edição de 8 de abril do DN com o título 'Cantos de Melancolia e Elegância no Segundo Álbum de James Blake'.

Poucos são os músicos que podem inscrever na sua história pessoal a memória de um disco que marca um tempo, abre caminhos e gera descendências. Nos últimos 20 anos, e já depois do visionário Blue Lines (1991) dos Massive Attack que abriu as portas aos anos 90, chegaram a este patamar nomes como os Portishead (Dummy, 1994), Beck (Odelay, 1996), os Daft Punk (Homework, 1997), os Air (Moon Safari, 1998), os Strokes (Is This It , 2001), os Arcade Fire (Funeral, 2004), os LCD Soundsystem (LCD Soundsystem, 2007), os Animal Collective (Merriweather Post Pavilion, 2009) e, mais recentemente, a estreia em álbum de James Blake, em 2011. Dois anos depois, Overgrown confirma que esse não foi um episódio único e que no músico encontrámos já um dos grandes valores do nosso tempo. Editado em fereveiro de 2011, James Blake assinalava um substancial passo em frente, revelando um plácido e admirável novo mundo feito de electrónicas capazes de conviver com a presença próxima das notas de um piano, cedendo depois o protagonismo a uma voz frágil (mas expressiva), sob um claro gosto pela exploração dos limiares do silêncio. O silêncio era, de resto, um dos elementos centrais na escrita de canções de arquitetura minimalista nos recursos, mas de impressionante solidez na composição. Dois anos depois - pelo caminho tendo atuado pelo mundo fora e editado novos EPs, em alguns casos assinalando pontuais reencontros com uma música com outra intensidade rítmica - eis que entra em cena Overgrown. E com este segundo disco chega um alinhamento que sublinha e reforça a constatação do talento de uma "voz" que, depois da revelação, te m aqui a sua confirmação. Diferente do tom mais geométrico e fragmentário que encontrávamos entre as canções de James Blake, nas propostas do novo disco escutamos a mesma voz frágil e a mesma alma melancólica do seu canto entregues a composições onde, em lugar do silêncio, sentimos desta vez uma curiosidade pela exploração das potencialidades dos sons. Há registos eletrónicos, o incontornável piano e um trabalho de produção que escuta ocasionalmente os espaço do eco. Irresistivelmente elegante, Retrograde foi desta vez o single de apresentação, como que a sugerir que se dava um passo em frente sem voltar as costas ao que o álbum de estreia conquistara. O disco conta ainda com duas importantes contribuições que ajudam a alargar mais ainda o espetro sonoro em que as novas canções caminham. A de Brian Eno enquanto co-autor de Ditigal Lion (todos os restantes temas do disco são assinados pelo próprio James Blake, que é também o produtor do álbum). E RZA, um dos nomes do coletivo Wu-Tang Clan, que partilha com Blake o protagonismo de Take A Fall For Me, a mais explícita das abordagens do autor do disco aos universos do hip hop. Mais distante das demais canções é contudo Voyager, que chega mesmo a assimilar elementos do techno. Feitas as contas às novas canções de Overgrown, James Blake apresenta-se assim em 2013 com um disco que reforça o seu estatuto entre os nomes de referência da década que estamos a viver.