Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com John Grant que serviu de base ao artigo ‘Como a música e uma nova casa transformaram a vida de um homem’, publicado na edição de 11 de março do DN.
Como têm reagido as pessoas que o seguem mais de perto a um disco onde as electrónicas têm evidente protagonismo? As pessoas à minha volta não ficaram muito surpreendidas, porque na verdade já estava à espera há algum tempo para que este momento chegasse. Na verdade sempre quis fazer música com electrónicas, as nunca tinha chegado o momento certo. No primeiro álbum trabalhei com músicos dos Midlake, pelo que não estava com as ferramentas certas na altura...
De onde vem este seu interesse pelas electrónicas? As electrónicas ligam-se muito ao nascimento do meu amor pela música, nos anos 70. Há muito que ouvia música electrónica e foi um espaço que nunca deixei de acompanhar. Mas estava à espera de alguém com quem pudesse trabalhar. Nunca o poderia ter feito sozinho.
É sabido que foi por isso que foi parar à Islândia... Vim para a Islândia com um objetivo específico, que era o de trabalhar com o Biggi. Na verdade, à primeira visita, e antes disso, tinha sido para tocar num festival. Ao voltar, aí já foi com a ideia de trabalhar com ele. Foi em janeiro do ano passado. Tornou-se claro para mim que precisava de ficar para acabar o disco. E a verdade é que fui ficando...
E porque foi ficando? Identifica-se com o lugar? Viver na Islândia é um pouco como viver em qualquer outro lado. Mas em muitos aspetos tem as suas grandes diferenças. Senti-me inspirado pela paisagem. E tudo tem também muito a ver com as pessoas, a música e a linguagem. A linguagem é difícil, é um desafio. A comunidade musical é muito diversa e muito aberta. Experimentam muitas coisas e colaboram uns com os outros.
Mas não deixou de seguir de perto o que se passa na América, onde nasceu... A América está na etapa inicial de começar a ser diferente. Há um progresso em curso. Em França, por exemplo, pareceu-me que as pessoas retrocederam ao ser confrontadas com algumas questões. Mas já o imaginava. A França é vista como sendo aquela coisa do [Serge] Gainsbourg: a Bardot, a abertura aberta às questões do sexo e do saborear da vida. Mas tem também um lado muito conservador. Que é o da burguesia francesa... E a verdade é que estão a fazer com que a sua voz seja escutada.
Que diz da reeleição de Obama? Obama é um homem espantoso. As coisas normalmente pioram sempre antes de serem resolvidas. É assim quando se debate uma questão. E para algumas das questões e a sua origem, na América é preciso recuar décadas, talvez mesmo aos dias em que a nação foi fundada. Questões como o capitalismo, o racismo, a economia, os direitos humanos... Não podem mudar da noite para o dia. Obama é um individuo impressionante, que se sabe expressar com eloquência e representa o progresso.