Devendra Banhart
“Mala”
Nonesuch / Warner
4 / 5
Foi há cerca de dez anos que, perante a descoberta de uma
primeira série de gravações, Devendra Banhart ganhou visibilidade e, desde
logo, um lugar de notoriedade entre uma nova geração de criadores folk (e não
faltaram nem designações para caracterizar a música nem seguidores para
continuar a espalhar a boa nova). Com o tempo sua obra ganhou outro estatuto,
outro fôlego, outros “convidados”, a música alargando horizontes para lá dos
primeiros passos em terreno lo-fi. Mas agora, depois do ensaio de algo maior
(mas que resultou num feito menor) que representou a sua estreia num catálogo
de multinacional com What Will We Be (de 2009) eis que chega ao espaço da muito
recomendável Nonesuch (casa de nomes como os Wilco, Laurie Anderson ou o
compositor John Adams) com aquele que é talvez o seu melhor disco desde Cripple
Crow, o álbum de 2005 no qual encetou o processo de descoberta de novos
caminhos de que este disco representa o melhor e mais coerente esforço até à
data. Tal como temos acompanhado nos seus discos mais recente, Devendra Banhart
junta agora a uma escrita cuidada e inspirada um olhar que não se fecha numa
rota única, o aparente desnorte que se projeta ao longo do alinhamento acabando
aqui, mais que nos discos anteriores, por gerar uma magnífica coleção de
canções que, mais que pelas formas, se ligam entre si pela forma de celebrar o
amor e o tom “ligeiro” e luminoso com que cantam os apaixonados. Entre momentos
próximos da identidade de raiz da sua música (ou seja, a folk), aventuras
texturalmente elaboradas (como se escuta no surpreendente Won’t You Come Home)
e experiências (bem sucedidas) por terrenos pop onde usa com elegância as
electrónicas, Mala pode não ser “o” álbum maior de Devendra Banhart, mas
reencontra o que parece uma certa paz de espírito (que o estar na berlinda
certamente lhe retirou) e lança bases para cenas dos próximos capítulos que vai
valer a pena acompanhar. Do bom humor que brota do encontro entre a memória da
compositora medieval Hildegard Von Bingen com as noites do nosso tempo em Für
Hildegard Von Bingen, aos deliciosos instantes pop que se escutam entre Won’t
You Come Over ou Cristobal Risquez (na melhor tradição OMD), sem esquecer o
piscar de olho à pop lo-fi de Hatchet Wound, Mala devolve Devendra Banhart aos
seus melhores momentos. A variedade de caminhos que percorre pode parecer coisa
de bússola baralhada. Mas é da soma de caminhos diversos que parece estar a
nascer uma nova visão para a voz de Devendra.