quarta-feira, março 13, 2013

Novas edições:
Devendra Banhart, Mala


Devendra Banhart
“Mala”
Nonesuch / Warner
4 / 5

Foi há cerca de dez anos que, perante a descoberta de uma primeira série de gravações, Devendra Banhart ganhou visibilidade e, desde logo, um lugar de notoriedade entre uma nova geração de criadores folk (e não faltaram nem designações para caracterizar a música nem seguidores para continuar a espalhar a boa nova). Com o tempo sua obra ganhou outro estatuto, outro fôlego, outros “convidados”, a música alargando horizontes para lá dos primeiros passos em terreno lo-fi. Mas agora, depois do ensaio de algo maior (mas que resultou num feito menor) que representou a sua estreia num catálogo de multinacional com What Will We Be (de 2009) eis que chega ao espaço da muito recomendável Nonesuch (casa de nomes como os Wilco, Laurie Anderson ou o compositor John Adams) com aquele que é talvez o seu melhor disco desde Cripple Crow, o álbum de 2005 no qual encetou o processo de descoberta de novos caminhos de que este disco representa o melhor e mais coerente esforço até à data. Tal como temos acompanhado nos seus discos mais recente, Devendra Banhart junta agora a uma escrita cuidada e inspirada um olhar que não se fecha numa rota única, o aparente desnorte que se projeta ao longo do alinhamento acabando aqui, mais que nos discos anteriores, por gerar uma magnífica coleção de canções que, mais que pelas formas, se ligam entre si pela forma de celebrar o amor e o tom “ligeiro” e luminoso com que cantam os apaixonados. Entre momentos próximos da identidade de raiz da sua música (ou seja, a folk), aventuras texturalmente elaboradas (como se escuta no surpreendente Won’t You Come Home) e experiências (bem sucedidas) por terrenos pop onde usa com elegância as electrónicas, Mala pode não ser “o” álbum maior de Devendra Banhart, mas reencontra o que parece uma certa paz de espírito (que o estar na berlinda certamente lhe retirou) e lança bases para cenas dos próximos capítulos que vai valer a pena acompanhar. Do bom humor que brota do encontro entre a memória da compositora medieval Hildegard Von Bingen com as noites do nosso tempo em Für Hildegard Von Bingen, aos deliciosos instantes pop que se escutam entre Won’t You Come Over ou Cristobal Risquez (na melhor tradição OMD), sem esquecer o piscar de olho à pop lo-fi de Hatchet Wound, Mala devolve Devendra Banhart aos seus melhores momentos. A variedade de caminhos que percorre pode parecer coisa de bússola baralhada. Mas é da soma de caminhos diversos que parece estar a nascer uma nova visão para a voz de Devendra.