sexta-feira, novembro 02, 2012

E no fim resta o silêncio...


Este texto foi originalmente publicado na edição de 31 de outubro do DN com o título ‘O que acontece depois de tudo ter acabado?’. E está também disponível aqui, no site do jornal.

É ao voltar à sala de ensaio, ao fim da tarde do primeiro dia depois do fim dos LCD Soudsystem, que James Murphy se desfaz em lágrimas. Está só, entre os instrumentos que agora ficarão sem quem os toque (pelo menos enquanto banda)... Ele mesmo não sabe se tomou a decisão certa. Ou, como respondera a um jornalista na etapa de promoção do concerto, se aquele fim não terá sido mesmo o maior falhanço da banda?

A verdade é que colocou um ponto final em alta. E como os LCD Soundsystem, apenas os Japan ou os KLF, entre poucos mais, tiveram coragem para decidir um fim num momento de glória. Mas não é do legado (nem da obra) dos LCD Soundystem que trata Shut Up And Play The Hits. Tudo começa na manhã seguinte ao concerto monumental (que assinalou o fim da banda perante um Madison Square Garden à pinha). James Murphy acorda em casa, faz café, passeia a cadela, visita os escritórios da sua editora (onde não está ninguém e tenta fazer café).

O documentário, que começa por parecer um arrumado filme-concerto com entremeada de making of e cenas do dia seguinte transforma-se aos poucos no retrato da solidão que se vai instalando no músico. Ouvimos memórias de entrevistas recentes, em que levanta dúvidas. Graceja até num programa de TV que acabou a banda para fazer café. Mas na verdade resposta ao porquê do fim é coisa que o filme não pode mostrar. Porque nem James Murphy a tem.

Magnificamente filmadas (e com belíssima captação de som) as imagens de concerto transpiram a emoção e festa. Mas são o silêncio e as dúvidas quem habita o espaço que fica depois de tudo acabar. Naquela sala, onde o músico chora, o vazio é uma assombração. E, apesar do som da festa, é esse silêncio que o filme nos faz escutar.