sexta-feira, novembro 02, 2012

Reedições:
Peter Gabriel, So

Peter Gabriel
"So"
Real World / EMI Music
4 / 5 

Apesar dos pontuais momentos de sucesso comercial, Peter Gabriel sempre conduzira uma carreira mais entre os espaços de culto que junto das atenções do grande público. Assim foi desde que deixou os Genesis para passar a assinar o que fazia pelo seu nome. Pontualmente cativou atenções maiores, como aconteceu ao som de Solsbury Hill, Shock The Monkey ou Games Without Frontiers, mas pelos seus álbuns (a todos tendo dado o seu nome por título) passou sempre um sentido de desafio, um desejo em trilhar uma visão pessoal, em seguir caminhos que não os que as modas (das formas, dos sons, das tendências, iam ditando). Mas em 1987 resolveu jogar outro jogo. Não que se tratasse de uma “cedência”... Mas antes uma experiência num terreno que, apesar de tudo, nunca tinha pisado com semelhante frontalidade (e ao qual na verdade não regressaria, deixando este como um episódio único na sua discografia). Fazer pop?... E porque não? Chamando à cadeira de produção Daniel Lanois (que consigo havia já trabalhado na banda sonora de Birdy e que recentemente tinha colaborado com os U2) lançou as bases para um álbum de canções de sentido clássico nas formas, mais acessíveis que nunca, mas nem por isso despidas das suas marcas de identidade... Antecedendo a aventura Real World – a editora essencialmente centrada nos espaços da world music que nasceria com o seu projeto seguinte: a banda sonora do filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese – o disco tateava já geografias exteriores aos eixos habituais da cultura pop/rock, convocando colaborações (ainda algo discretas, é certo), de figuras como Youssou N’Dour ou Manu Katché, além de nomes menos inesperados como Stewart Copeland, Laurie Anderson, Nile Rodgers ou Kate Bush. Ao álbum, a que chamou So (e que se ainda hoje representou o seu maior êxito no departamento das vendas), chamou primeiras atenções com Sledgehammer, uma canção à la Otis Redding que fez acompanhar por um teledisco de animação usando técnicas stop motion (criado pelos estúdios Aardman) que se transformou num marco da história desta ferramenta promocional. O alinhamento visita espaços semelhantes em Big Time, um olhar sobre a era do consumismo exacerbado dos oitentas, alargando horizontes em Red Rain (talvez o momento mais próximo da linha “clássica” da sua obra), e ensaiando novos desafios em canções como Don’t Give Up (dueto com Kate Bush que é um verdadeiro hino à resistência), Mercy Street (onde desenha novas texturas que sugerem iminente partida da sua atenção para músicas de outras geografias), o dramático We Do What We’re Told ou This Is The Picture (Excelent Birds), magnífica colaboração com Laurie Anderson. De som arrumado e claro, preciso nas formas e claro nos caminhos que as palavras sugerem, So fez-se um êxito mainstream de dimensão global. E agora, 25 anos depois, regressa numa edição que junta ao álbum (com o alinhamento alterado face ao vinil original, mas respeitando a ordem desde sempre desejada por Gabriel) dois CD extras com a gravação de um concerto em Atenas (na Grécia e não a cidade norte-americana!) da digressão que levou as canções deste álbum pelo mundo fora.