terça-feira, outubro 16, 2012

Futebol e tele-patriotismo

REMBRANDT
Lição de Anatomia (1632)
A norma > É verdade que não é legítimo generalizar em absoluto. Claro que não. O certo é que nos mais diversos comentários televisivos sobre a selecção portuguesa (antes, durante e depois dos jogos), há sempre protagonistas empenhados em proclamar a mais pueril moral patriótica. Acontece que Portugal joga muito mal, mas o essencial é sempre outra coisa. A saber: o jogo não está a correr bem, mas o adversário pertence quase sempre a um escalão inferior... Em condições normais (???), só podemos ganhar.

O acontecimento > Na prática, isso conduz a uma perplexidade caricata: o que está a acontecer é qualquer coisa que "não pode acontecer". A utópica normalidade assim o garante. Aliás, a expressão surge empregue a partir dos eventos mais objectivos: a defesa mete água por todos os lados, mas isso não é mau futebol, apenas algo que "não pode acontecer"; os jogadores falham golos atrás de golos, mas isso não se deve à sua inépcia, sendo tão só algo que "não pode acontecer"...

A cultura > A mensagem configura uma cultura de arrogância nacional que, jogo após jogo, se instila no pensamento dos espectadores. Não temos uma equipa que se possa definir pela mediocridade futebolística que vai revelando. Nada disso: somos os melhores do mundo, os outros é que têm o atrevimento de jogar melhor que nós. E isso, claro, "não pode acontecer".