Um disco de homenagem a Nick Drake, nos 40 anos de 'Pink Moon', por Joel Frederiksen, cantor e alaúdista com obra essencialmente focada nos espaços da música antiga. Este texto é a versão editada de um outro publicado na edição de 27 de agosto de 2012 do DN.
Joel Federiksen estava numa sala de cinema quando, antes do filme, um dos anúncios apresentou um automóvel ao som de Pink Moon de Nick Drake. Cantor (um baixo, mais concretamente) e alaudista, o músico alemão tinha descoberto a música do cantautor britânico em 1982. Admirara então as canções, “a voz planante e os arranjos intrincados para guitarra”, como recorda no booklet do seu novo disco. Mas a sua carreira apontou à música do renascimento e há muito que tinha deixado as canções de Nick Drake de lado... Mas naquela noite, ao escutá-lo numa sala de cinema, a antiga paixão renasceu e a ideia de trabalhar aquelas canções ganhou novo fôlego. O álbum Requiem For a Pink Moon, agora editado, diz-nos que soube levar o desejo a bom porto.
Como tantos outros, Joel Frederiksen descobrira a música de Nick Drake já depois da sua morte. E diz que é uma “arte cheia de melancolia, sentimento e conceito que o une assim aos cantautores da Inglaterra dos tempos de Isabel I”, explica. Depois daquela noite no cinema, decidiu procurar pontes de possível comunicação entre os espaços da música antiga em que estava a fazer carreira e esta admiração antiga por Nick Drake. Começou por idealizar um requiem, que integrasse canções suas. Encontrou espaço de trabalho num mosteiro na Umbria (em Itália). E agendou um primeiro concerto. Mas quando surgiram as primeiras notícias do trabalho em curso estas falavam (fruto de um equívoco do próprio gabinete de comunicação) de um programa que cruzava as canções de Nick Drake com outras, de compositores ingleses dos tempos de Isabel I... O engano contudo despertou uma outra ideia. E acabou por definir o caminho (precisamente o desse diálogo então sugerido) que agora escutamos neste disco.
Não abandonou totalmente a ideia inicial do requiem. Procurando uma forma de o integrar no conceito, que tinha o álbum de 1972 como principal fonte de inspiração (e de canções para o alinhamento), encontrou a solução num arranjo dos elementos convocados de outros tempos “que combina elementos do estilo folk da guitarra de Nick Drake com os blues e outros estilos a que ele certamente responderia em finais dos anos 60 e início dos anos 70”, explica o músico no texto com que apresenta o disco. O resultado final mostra, em Requiem For A Pink Moon, onde colabora ainda o Ensemble Phoenix Munich, canções de várias etapas da obra de Nick Drake (algumas apenas editadas postumamente) com a missa de requiem gregoriana e composições de John Dowland (1562-1626), Michael Cavendish (1565-1628) ou Thomas Campion (1567-1619). Cruzam-se linguagens e heranças. Se Nick Drake fosse um compositor renascentista, soaria assim? Talvez não, que outras genéticas e experiências se cruzam nesta abordagem. Mas o poder da fantasia pode ajudar-nos a sonhar.