Um percurso por uma série de peças vocais de câmara de Arvo Pärt em gravações sob a direção de Paul Hillier. A edição é da Harmonia Mundi.
Através do trabalho do seu Theatre of Voices Paul Hillier tem já assinada uma vasta e importante discografia através da qual podemos encontrar caminhos centrais e nomes fulcrais da música vocal contemporânea. De obras de John Cage a Karlheninz Stockhausen, passando ela estreia em disco da obra premida (com um Pulitzer) de David Lang The Little Match Girl Passion, a discografia de Hillier e do seu grupo permite focar assim a expressão de várias personalidades e horizontes, contando porém com um claro protagonista (se a tanto o volume de títulos já editados assim o permite identificar): Arvo Pärt. Creator Spiritus é mais um disco que lançam através da Harmonia Mundi, desta vez procurando um olhar representativo da sua obra vocal de câmara.
O disco nasceu de um programa que partia do já célebre Stabat Mater (1985) de Arvo Pärt como ponto de partida. Sem o objetivo de definir uma antologia representativa dos rumos que a obra do compositor tomou desde então, sendo clara contudo uma opção por uma reunião de obras mais recentes, o alinhamento que o disco agora apresenta cobre um percurso no tempo que remonta a 1963 (data da versão original de Solfeggio, entretanto revista em 2008). Muitas das obras são a capella, contando Paul Hillier tanto com o seu Theatre of Voices como com o Ars Nova Copenhagen. Algumas das peças convocadas a este programa juntam ocasionalmente a presença do NYYD Quartet e do órgão de Christopher Bowers-Broadbent. O percurso desenha-se implicitamente entre o alinhamento, os ecos do interesse de Pärt pela música vocal religiosa medieval diluindo-se em preces que traduzem todavia uma expressão de um olhar que surge noutro tempo. Como quem, afinal, aceita uma herança, mas não a coloca num altar. Leva-a antes consigo, integrando-a, transformando-a, projetando-a num outro tempo não como uma mera memória, mas uma continuação.