quinta-feira, maio 31, 2012

Aventuras do sono (o livro e o filme)

Nicole Kidman esteve no centro de muitas notícias do Mercado do Filme, em Cannes, sobretudo por causa das vendas internacionais de Grace of Monaco, um retrato de Grace Kelly (1929-1982) a ser dirigido por Olivier Dahan e com lançamento previsto para 2014. De qualquer modo, nas ruas de Cannes apareceram também os primeiros cartazes promocionais de Before I Go to Sleep, a ser protagonizado por Kidman, com Rowan Joffé a assinar a realização.
Foi Ridley Scott, neste caso na qualidade de produtor, que adquiriu os direitos de adaptação do romance de estreia do inglês S. J. Watson (n. 1971), um hábil thriller centrado na personagem de uma mulher que acorda em recorrente estado de amnésia — é graças a um detalhado e obsessivo diário, todos os dias relido e acrescentado, que vai conseguindo descobrir as atribulações da sua existência. Before I Go to Sleep resulta um requintado exercício estilístico, uma verdadeira aventura do sono e seus fantasmas, porventura capaz de gerar um filme tão insólito quanto envolvente.

Encontro com Robert Pattinson (2/2)

Esta é a segunda parte de uma entrevista publicada no Diário de Notícias (29 Maio), com o título 'Será que a realidade é apenas tomar anti-depressivos e andar... contente?'.

[ 1 ]

Antes de fazer Cosmopolis, conhecia bem o cinema de Cronenberg?
Sim, tinha visto muitos dos seus filmes. E tinha um cartaz de Scanners no meu quarto.
Talvez possamos dizer que Cosmopolis retoma uma questão central dos seus filmes anteriores. Ou seja: o que é a realidade?
Há mesmo uma cena em que, numa grande agitação, Eric diz à mulher que, afinal, as conversas das pessoas “normais” são muito estranhas... E quanto mais tenta comportar-se como um ser humano, mais parece um extraterrestre. Será que a realidade é apenas tomar anti-depressivos e andar... contente?
Como é que um actor se prepara para uma personagem destas?
Comecei pelos métodos convencionais e, de facto, não estava a resultar.
Que métodos convencionais?
De onde vem a personagem? Quais as motivações do seu comportamento? De repente, nada disso fazia sentido perante Eric. Há uma cena (que também está no livro) que, para mim, foi a chave de todo o processo. É no momento em que Eric, acompanhado pelo seu “Conselheiro de Teoria”, contempla a fachada do edifício NASDAQ (mercado de acções): para eles, aquilo parece uma igreja.
E que acontece numa igreja dessas?
Para eles, que gastam o tempo a inventar transacções, tudo se passa como se estivessem a viver no futuro, sem necessidade de lidar com o presente: o futuro é infinito, o presente aterrador.
Como lhe parece que os espectadores vão lidar com Eric? Vão sofrer com ele? Colocar-se contra ele?
Na verdade, não sei. As primeiras reacções têm sido muito boas, mas não sei. Quando vi o filme, senti que, no fim de tudo, Eric é uma personagem profundamente triste. O que não deixa de ser estranho, já que, se tivéssemos de lidar com ele, Eric seria alguém que não se interessaria pelos nossos sentimentos.
Essa tristeza será, talvez, um tema recorrente de Cronenberg.
Sem dúvida, porque não são histórias que se encerrem quando chegam ao fim. Há sempre como que uma felicidade inatingível, o que deixa uma sensação desconcertante... E eu gosto disso.

O tucano caleidoscópico

São uma dupla da Nova Zelândia. Os Kids of 88 editaram este ano o seu segundo álbum de originais e é do alinhamento de Modern Love que destacam Tucan, um dos singles já extraídos deste novo disco. O tema, onde contam com a colaboração de Alisa Xayalith, surge agora num teledisco realizado por Levi Beamish.

Discos Pe(r)didos:
Polyrock, Polyrock


Polyrock
“Polyrock”
Wounded Bird Records
(1980)

Entre a multidão de bandas que fizeram a banda sonora do universo pós-punk entre finais dos setentas e inícios dos oitentas contam-se referências centrais à construção dos tempos que se seguiram – e basta citarmos nomes como os Joy Division, The Cure, Duran Duran, Bauhaus ou The Associates para sabermos do que estamos a falar. Mas entre os muitos que o tempo não registou com a mesma intensidade há casos a rever. E os Polyrock são um bom exemplo. Sexteto criado em Nova Iorque em 1978, captando a energia intensa de uma música que então descobria caminhos entretanto abertos pela revolução punk, nasceram sob uma certa liderança do vocalista e guitarrista Billy Robertson (antes um elemento dos Modern Citizen), juntando ainda as presenças da percussionista Catherine Oblasney, o guitarrista Tommy Robertson, o baterista Joseph Yannece, o teclista Lenny Aaron e o baixista Curt Cosentino. Porém, ao olharmos atentamente para a ficha técnica de Polyrock, o álbum através do qual se apresentaram em 1980, notamos a presença, como produtores de dois nomes bem sonantes: Kurt Munkacsi e Philip Glass (este tocando mesmo teclas em vários temas e piano em Bucket Rider). É que, apesar das eventuais afinidades que podemos encontrar entre os Polyrock e outros contemporâneos seus – nomeadamente os Suicide e, pela angulosidade minimalista e inteligente do trabalho das guitarras, os Television – a presença de Philip Glass acaba por ser a alma inspiradora mais evidente entre os dez temas (cantados e instrumentais) que fazem o alinhamento do disco. Your Dragging Feet é o mais evidente herdeiro da linguagem de Glass, as vocalizações e o trabalho de teclados estabelecendo pontos entre as heranças recentes de um North Star ou mesmo Einstein on The Beach. Mas mesmo quando as guitarras e a dinâmica estrutural da canção pop/rock são protagonistas, como em No Love Lost, por exemplo, o gosto pela repetição e a presença (evidente) do trabalho de teclas vincam esta ligação, fazendo de Polyrock um marco histórico (ainda à espera de reconhecimento mais evidente) na relação entre o trabalho de um compositor ligado aos espaços da música clássica e as linguagens pop/rock. Ou seja, antes mesmo das pontes materializadas mais tarde em trabalhos com os S’ Express, Aphex Twin, Mick Jagger ou no ciclo Songs From Liquid Days (onde colaboraram nomes como os de David Byrne, Paul Simon, Laurie Anderson ou Suzanne Vega), é em Polyrock que Philip Glass conhece primeiros sinais de como a sua obra se afirmaria como uma das mais influentes entre os grandes compositores da sua geração. Precisamente por não acreditar em fronteiras que separem músicas, músicos e a sua vontade em dialogar.

E depois do álbum
De vida curta (separaram-se em 1982), os Polyrock editaram ainda um segundo álbum em 1981, uma vez mais contando com a colaboração em estúdio de Philip Glass que, nessa altura, trabalhava na banda sonora de Koyaanisqatsi e lançava as bases de Akhnaten, a sua terceira ópera-retrato.

Manhã de Santo António

Foto de João Pedro Rodrigues

Foi com uma fotografia, tirada com o telemóvel, numa manhã de Santo António (a de 2009) que nasceu a base da ideia que conduziria ao “filme de zombies”, como João Pedro Rodrigues apresentou Manhã de Santo António na mais recente edição do Sound + Vision Magazine. A assombrosa curta-metragem, onde se nota a procura de uma nova forma de trabalhar a ficção, teve estreia no encerramento da Semana da Crítica, em Cannes. Esperamos agora por notícias da sua passagem por ecrãs nacionais.

Um muito obrigado ao João Pedro Rodrigues pela cedência desta imagem ao Sound + Vision.

Amércia?


Uma “Amércia” melhor?... Fosse a coisa de ficção científica e seria talvez um planeta ou algo assim. Mas não. A “amercia” de que fala a aplicação “With Mitt”, criada para iPhone para a campanha do (agora) candidato republicano às presidenciais americanas, não é mais senão uma triste gralha que entretanto se tornou anedota viral e corre já o mundo digital nas mais variadas formas e variações.

Numa era em que as campanhas eleitorais se transformaram no high end do trabalho de marketing, com equipas a preço que será de tudo menos de saldo, uma “gralha” como esta é mais que um embaraço, uma grande vergonha (para os profissionais envolvidos e quem os contratou).

Que desculpa encontrará o eleitorado mais conservador americano – que já chamou socialista ou árabe a Obama e se diz tão defensor dos grandes “valores” americanos – para perdoar ao “seu” candidato tamanha desvalorização da palavra que dá nome ao seu país?

Para ler: David Sylvian


Vamos construir, aos poucos (e sem pressa), uma biblioteca sobre títulos musicais. E começamos com uma biografia de David Sylvian, assinada por Martin Power.

The Last Romantic
por Martin Power
Ombibus Books , 1998

Chamou-lhe The Last Romantic, título que pode trazer várias leituras, entre as quais a eventual ligação que, pela imagem, som e contexto de época, inevitavelmente ligou a etapa final da vida dos Japan ao movimento new romantic, em inícios dos anos 80. Com edição original em 1998 (entretanto republicado com atualizações), The Last Romantic é a única grande biografia de David Sylvian publicada em língua inglesa. Coisa estranha perante uma das figuras mais interessantes da história dos 30 últimos anos da música popular e presença tão regular na imprensa musical de gosto mais apurtado (como a Wire)... Sem fugir a uma certa lógica do “era uma vez” que caracteriza os textos biográficos, Martin Power traça um percurso cronologicamente arrumado identificando os primeiros sinais de interesse pela música, a formação e evolução dos Japan, a sua rutura e, depois, o percurso a solo do músico. Valoriza mais os factos, mas não deixa de observar com alguma atenção os temas gravados a cada novo disco. Está longe das grandes biografias musicais que outros músicos já conheceram. Falta talvez uma perspetiva crítica do próprio Sylvian sobre o seu passado (como já lemos em entrevistas). Mas é um bom (e bem documentado) arrumar de ideias.

quarta-feira, maio 30, 2012

De Norman Jean a Marilyn Monroe

1952 - rodagem de Niagara
Mil vezes contada. Mil vezes recontada. A história de Marilyn Monroe é também a história do nosso olhar sobre a volatilidade das imagens — suas evidências e renovados enigmas. Bruno Bernard (1912-1987) não terá sido um dos grandes mestres do glamour de Hollywood, mas é um facto que esteve com Marilyn onde muitos não estiveram, eternizando-a em imagens tecidas de uma cumplicidade que não exclui um acutilante sentido de reportagem.
Susan Bernard, sua filha, reuniu esse espólio do pai num livro a que deu um título eloquente: Marilyn: Intimate Exposures (Sterling Publishing). São fotografias que permitem voltar a percorrer o caminho que vai de Norman Jean a Marilyn Monroe, da comovente e anónima fragilidade ao assombrado esplendor de Hollywood — em dossier exclusivo para a Net, a Vanity Fair propõe um portfolio Bernard/Monroe.
1954 - anunciando o divórcio de Joe DiMaggio

Encontro com Robert Pattinson (1/2)

Robert Pattinson (com David Cronenberg e Sarah Gadon)
em Cannes, 25/05/2012 (FOTO FIF/LF)
Fazer uma entrevista com alguém do mundo do cinema que tem um estatuto de estrela envolve, quase sempre, algum protocolo logístico e discursivo. Exemplo clássico: o compromisso de o jornalista se limitar a registar a conversa, sem fazer fotografias (há, como é óbvio, momentos programados, os chamados photocalls, para que tal aconteça). São regras que podem, por vezes, decorrer de um ansioso excesso de zelo. Em todo o caso, são também, na minha perspectiva, regras legítimas, quanto mais não seja porque sabemos que a classe jornalística também integra muitas formas de trabalho (?) que se fundamentam na banal, medíocre e desumana exploração dos "famosos".
No caso desta entrevista a Robert Pattinson, em Cannes, tendo como pretexto o novo filme de David Cronenberg, Cosmopolis [estreia: 31 Maio], foram-me pedidas duas coisas: que não pedisse autógrafos e que não orientasse a conversa no sentido da saga Twilight/Crepúsculo. Sem problemas. Aliás, não é preciso perguntar a Pattinson se Cosmopolis representa algo de diferente na sua breve e fulgurante carreira — para além da excelência da sua interpretação, o filme, espantoso retrato da nossa relação suicida com o dinheiro, não tem nada de "juvenil", muito menos de anedótico. E se há nele um perturbante vampirismo, decorre de uma elaborada visão da decomposição mercantil das relações humanas.

* * * * *

A entrevista que segue foi publicada no Diário de Notícias (29 Maio), com o título 'Será que a realidade é apenas tomar anti-depressivos e andar... contente?'.

Quando leu o argumento de Cosmopolis, sentiu que seria uma espécie de aventura de ficção científica ou, pelo contrário, um filme quase realista?
Para dizer a verdade, não me pareceu que viesse a ser um filme realista. O que realmente me interessou foi o lirismo da escrita, a combinação entre o poético e o divertido... Normalmente, quando leio um argumento, é possível ter uma certa antecipação visual do filme. Não no caso de Cosmopolis: era como se apenas conseguisse ouvir.
Essa possibilidade de “ouvir” provinha da importância do diálogo?
Sim, porque o diálogo surpreendia logo pelo estilo invulgar. Isso começava na própria aparência das páginas: viam-se de imediato os enormes monólogos, cada vez mais invulgares nos filmes. Ao mesmo tempo, era incrivelmente fácil de ler: acho que o li nuns 40 minutos...
O livro foi escrito muito antes da crise financeira de 2008 e, agora, quase parece uma reportagem sobre o nosso presente.
Até mesmo o episódio da tarte na cara de Rupert Murdoch parece ter sido “adivinhado” por Cosmopolis...
Tendo isso em conta, sentiu que estavam a fazer um retrato dos dias de hoje?
De facto, por mais estranho que pareça, não senti. O que senti é que era um filme sobre a vontade de ser livre. Há quem veja o filme como uma história niilista, sobre o abandono de todos os valores, mas nunca vi a personagem de Eric Packer dessa maneira. Para mim, é alguém que tenta, desesperadamente, encontrar alguma coisa e... não consegue.
Porque o dinheiro não basta?
Sim. Em qualquer caso, para ele, o dinheiro é uma entidade totalmente sem significado. Aliás, devo dizer que o mercado das acções é qualquer coisa que, para mim, não faz sentido. Por exemplo, quando lemos as notícias sobre a avaliação do Facebook: 104 mil milhões de dólares? Como é que isso pode ser real?

[continua]

CANNES 2012: Polanski x 2

Um dos destaques da secção 'Cannes Classics' foi a cópia restaurada de Tess (1979), de Roman Polanski (esperemos que a distribuição/exibição internacional tenha a coragem de repor o filme nas salas...). Na respectiva sessão, foi também apresentada uma pérola de sofisticação e inteligência narrativa que é, para todos os efeitos, o mais recente filme de Polanski. Chama-se Therapy, é um spot publicitário da Prada, e envolve uma galeria de notáveis colaboradores, incluindo os actores Helena Bonham Carter e Ben Kingsley, o director de fotografia Eduardo Serra, o designer Dean Tavoularis e o compositor Alexandre Desplat, além de Hervé de Luze, montador dos filmes de Polanski desde Os Piratas (1986). Centrado numa secção de psicanálise que se desenvolve de forma peculiar, o filme [aqui reproduzido], na sua deliciosa ironia, é bem típico das ambiguidades existenciais (leia-se: sexuais) do universo do autor.

Cada vez mais longe do rock'n'roll

Longe vai a angulosidade rock'n'roll com que os descobrimos há uns anos. Os Gossip abraçam uma linguagem pop com vontade de dançar em Move In The Right Direction, tema do álbum acabado de editar. Aqui fica o teledisco, a preto, branco e vermelho.

Novas edições:
Citizens!, Here We Are


Citizens! 
“Here We Are” 
Kitsuné / Coop 
3 / 5

Foi com os Franz Ferdinand que, em meados dos anos zero, escutámos alguns dos melhores episódios de uma verdadeira invasão de herdeiros dos ensinamentos da new wave (que caracterizou, depois da “vaga canadiana”, um dos grandes pólos de agitação em clima pop em inícios do século XXI). O filão entretanto esgotou (as ideias de quem o explorou e a paciência de quem o acompanhou) e muitos dos protagonistas dos acontecimentos de então seguiram caminho, uns cristalizando em inconsequentes revisitações de mais do mesmo, outros tentando outros atalhos. E até mesmo os Franz Ferdinand, indiscutíveis cabeças de cartaz dos melhores momentos vividos entre 2004 e 2006, revelaram em Tonight (2009) sinais de alguma dúvida quanto ao passo seguinte a tomar, o disco acabando muito aquém das expectativas de quem neles acreditava estar a banda que mais capacitada estaria para sobreviver à maré baixa que inevitavelmente se seguiria à euforia que então se viveu entre discos e palcos de festivais. Uma das mais interessantes figuras que o cenário pop/rock revelou na década dos zeros, Alex Kapranos (vocalista dos Franz Ferdinand) pode ter encontrado no trabalho com os londrinos Citizens! uma chave para reinventar o viço que animava a sua banda nos dias de Take Me Out ou Do You Want To. A sua presença é evidente na produção de Here We Are, álbum de estreia que surge na sequência de dois promissores cartões de visita que escutámos entre os singles True Romance e Reptile. Com modelos encontrados em ecos da pop mais visionária que se escutava em finais dos setentas (de Bowie aos Sparks), juntando ingredientes electrónicos que frequentemente caracterizam a imagem de marca da Kitsuné (editora que os acolheu), aqui ora acentuando marcas de contemporaneidade – (I’m In Love With Your) Girlfriend - como vincando a mesma aura retro que visita os anos 70, como se escuta em I Wouldn’t Want To) e uma angulosidade que herdam (via Kapranos) da elegante escola Franz Ferdinand, o álbum coloca em cena uma banda que, ainda incapaz de criar um álbum com a consistência de uma coleção de potenciais singles, revela contudo ser mais que a casa de pontuais promessas (como tantas vezes tem acontecido por outras bandas). Entre o entusiasmo de uma pop feita com guitarras e as electrónicas (sem contudo a pompa palaciana de uns The Killers) e marcas de quem quer estar a viver uma relação com o presente (e não em clima de nostalgia), o álbum de estreia dos Citizens! consegue, mesmo sem gerar um instante de referencia, arrumar ideias e mostrar como velhas genéticas próximas de um filão quase levado à exaustão recentemente têm ainda capacidade em comunicar com o presente. E se o produtor levar daqui ideias, o álbum que todos esperamos ainda este ano pode promover um belo reencontro.

Martha, Marcy, May, Marlene... DVD


Foi uma das primeiras estreias de 2012 e, até agora, um daqueles filmes apontados a morar eventualmente na lista dos grandes acontecimentos do ano nos nossos ecrãs. Primeira longa metragem de Sean Durkin (que produziu Afterschool, de Antonio Campos, que retribui assinando agora aqui a produção), Martha Marcy May Marlene, que se fez notar em Sundance há pouco mais de um ano, é um olhar sobre como os espaços de apregoado sonho de fuga podem por vezes ser verdadeiros pesadelos dos quais não nos conseguimos depois libertar. Como aqui escrevia em janeiro deste ano, “o filme acompanha a história de uma jovem que, em fuga de uma comunidade algures em distante meio rural (e com ares de seita), onde a utopia era apenas sonho falado, reencontra um espaço de conforto familiar. Traz consigo valores e gestos baralhados pela experiência comunitária. E medos. Assombrações que não consegue apagar e a fazem inclusivamente sentir que possa estar a ser vigiada por aqueles de quem fugiu”. A atriz Elizabeth Olsen veste a pele de uma jovem assombrada por experiências claramente traumáticas e é pungente protagonista de uma história que explora, sobretudo, como as fronteiras do medo podem ser transgredidas, esbatendo as diferenças entre o pesadelo e a realidade.

Sem acolher a variedade de extras que encontramos na edição norte-americana em Blu-ray, o DVD acabado de lançar entre nós junta ao filme a curta metragem Mary Vista Pela Última Vez, de Sean Durkin, que mora na raiz deste filme.

Bronski Beat (e descendências)


Há poucos dias recuperámos aqui como Disco Pe(r)dido o álbum The Age Of Consent, o disco de estreia dos Bronski Beat, editado em 1984 e que, apesar de uma mais recente reedição em CD em 2000, há muito era título afastado dos escaparates e das atenções. Agora chega a notícia da sua reedição. Numa campanha que junta ainda novas edições para os dois álbuns dos Communards e os dois primeiros discos a solo de Jimmy Sommerville, a voz dos Bronski Beat.

A editar a 2 de junho, The Age Of Consent surgirá no formato de duplo CD que junta ao alinhamento do álbum as versões alternativas dos singles, lados B e versões máxi, assim como os temas do mini LP Hundreds and Thousands que, entre remisturas e o single nunca editado que terminou a relação de Jimmy Sommerville com os Bronski Beat, completa assim uma quase “integral” da melhor etapa da vida do grupo (ficam de fora apenas algumas remisturas).


Será este o alinhamento da reedição do álbum:

CD1. Why?, It Ain t Necessarily So, Screaming, No More War, Love and Money, Smalltown Boy, Heatwave, Junk, Need-a-Man Blues, I Feel Love/ Johnny Remember Me, Smalltown Boy [7” edit], Why [remix], I Feel Love Medley (Source Mix), It Ain t Necessarily So [12” version], Red Dance

CD2: Heatwave [Goldberg remix], Why? [Goldberg remix], Run From Love [Meita remix], Hard Rain [Goldberg remix], Smalltown Boy [Goldberg remix], Junk [Goldberg remix], I Feel Love [Fruit Mix], Hard Rain [demo], Screaming [demo], Signs (And Wonders), The Potato Fields, Run From Love [radio version], Puit D Amour, Close To The Edge, Cadillac Car


Complemento a estes episódios marcantes da história da pop dos oitentas, a 2 de junho entram igualmente em cena reedições de Communards (1986) e Red (1987), os dois álbuns de originais da banda que Jimmy Sommerville criou com Richard Coles depois de abandonar os Bronski Beat. Ambos surgem em formato de duplo CD com lados B e remisturas como extras, Red juntando ainda o triplo EP ao vivo Storm Paris, editado em 1988. A 30 de julho são editados, igualmente em versões de dois CD, os álbuns Read My Lips (1989) e Dare To Love (1995), de Jimmy Sommerville.



Imagens do teledisco de Why?, dos Bronski Beat.

Escrito à mão


Um tumblr integralmente dedicado a manuscritos. Para ver páginas de livros com anotações, folhas com ideias ou textos que o tempo imortalizou, correspondência, pautas com notas registadas... De Chopin a Debussy, passando por Virginia Woolf, Albert Einstein, Stanley Kubrick, Allen Ginsberg, Thurston Moore, José Saramago, Fernando Pessoa, Franz Kafka, Walter Benjamin, Charles Darwin, entre tantos outros... Na imagem que abre este post encontramos um livro de apontamentos de Nick Cave.

Podem visitar o tumblr aqui.

The Walkmen: a bênção do Céu

As fotos do novo álbum de The Walkmen mostram os respectivos membros em ambiente familiar: a capa do primeiro single, Heaven (a canção que dá o título ao novo registo) é um pormenor eloquente de uma dessas fotos. São deambulações muito terrenas, tocadas pela bênção do Céu, tudo com a serenidade tocante de quem dispensa a exibição de "modernismos" mais ou menos postiços [video: trailer promociomal] — para escutar, na íntegra, no site da NPR.


>>> The Walkmen estarão no Porto, a 8 de Junho, no Optimus Primavera Sound.

terça-feira, maio 29, 2012

CANNES 2012: um pequeno balanço

Entre os que ficaram no palmarés e os (inevitáveis) ausentes, como avaliar o trabalho do júri presidido por Nanni Moretti? Com algum desencanto, convenhamos... Este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Maio), com o título 'Foi você que disse Reygadas?'.

Não vale a pena esconder alguma desilusão. Num festival em que vimos cineastas a discutir os limites simbólicos do nosso mundo (David Cronenberg, Cosmopolis), a reinventar a convivência entre cinema e teatro (Alain Resnais, Vous n’Avez Encore Rien Vu) ou ainda a reagir contra o naturalismo televisivo (Abbas Kiarostami, Like Someone in Love), há qualquer coisa de chocante no facto de o emblemático prémio de realização distinguir o bem intencionado e muito superficial formalismo do mexicano Carlos Reygadas. Nesse aspecto, como presidente do júri, Nanni Moretti acabou por consagrar o exacto oposto da exigência formal que tem sido apanágio da sua filmografia...
Foi, afinal, um palmarés politico e, mesmo discordando, não fará sentido acusar Moretti de incoerência: a metódica exclusão de todos os filmes americanos (e eram cinco!) decorre de uma visão que tende a demonizar quase tudo o que vem dos EUA, mesmo quando os respectivos produtos envolvem um brutal sentido autocrítico (veja-se o magnífico Killing them Softly, de Andrew Dominik, e o seu perturbante sarcasmo perante o discurso de tomada de posse de Barack Obama).
Paradoxalmente, o sentido político das escolhas do júri envolve também a distinção do excelente Reality, de Matteo Garrone, com o Grande Prémio, segundo em termos de importância no interior do palmarés: decompondo as imposturas da “reality TV”, eis um filme que sublinha a necessidade (politica, justamente) de pensarmos os efeitos devastadores da mediocridade do Big Brother e programas afins.
Dito isto, fiquemos pelo mais simples: a Palma de Ouro para Amour, de Michael Haneke, consagra um filme sublime. Além do mais, é seguro supor que o próximo filme de Moretti será sempre mais interessante que o seu trabalho como presidente do júri de Cannes. Grazie a Dio.

Na Fnac: zombies, coisas concretas e abstractas

Foi João Pedro Rodrigues que o disse, no Magazine SOUND + VISION, na Fnac: Manhã de Santo António, a sua mais recente curta-metragem, é uma espécie de filme de zombies sobre o espaço urbano. Acrescentamos nós: uma deambulação poética pelas fronteiras interiores da própria cidade. Foi uma revelação (cerca de 3 minutos...) de um filme que permanece inédito em Portugal, tendo tido recentemente a sua estreia mundial na sessão de encerramento da Semana da Crítica, em Cannes.
Foi uma sessão entre o concreto e o abstracto — com Cosmopolis, de David Cronenberg, a simbolizar essa oscilação [video: entrevista de Cronenberg e Robert Pattinson, em Cannes, para o Canal Plus] —, num ziguezague de actualidades & memórias que incluiu os novíssimos álbuns de Damon Albarn (Dr. Dee) e Sigur Rós (Valtari), e ainda uma reedição de Terna É a Noite, de F. Scott Fitzgerald.

João Pedro Rodrigues:
hoje no Sound + Vision Magazine


Hoje à tarde, pelas 18.30 na Fnac Chiado, a edição de maio de 2012 do Sound + Vision Magazine assegurará a estreia em Portugal de algumas imagens do filme Manhã de Santo António, de João Pedro Rodrigues (com a presença do realizador), que recentemente teve estreia mundial no Festival de Cannes.

Este mês escutamos ainda os novos discos dos Sigur Rós, Jack White e de Damon Albarn, olhamos para as três curtas de João Salaviza agora editadas em DVD, partilhamos histórias e imagens da edição 2012 do Festival de Cannes, antecipamos a estreia de Cosmopolis e assinalamos os 40 anos da edição de Ziggy Stardust, o histórico álbum que David Bowie lançou junho de 1972.

Algo melhor...

São Londrinos, chamam-se Get People e preparam-se para editar um novo EP, a que vão dar o título Harmonize. Como cartão de visita apresentam Something Better. Aqui fica o teledisco.

Novas edições:
Scissor Sisters, Magic Hour


Scissor Sisters
“Magic Hour”
Polydor / Universal
2 / 5

Já lá vão oito anos. Foi em 2004 que, ao som de Laura, Take Your Mama ou de uma versão (magnífica, sublinhe-se) de Comfortably Numb (no original dos Pink Floyd) que o mundo descobria os Scissor Sisters. Pop com vitaminas de festa, um cruzamento da cultura camp nova iorquina do início dos zeros com ecos de memórias dos setentas, os jogos de vozes entre Jake Shears e Anna Matronic e uma postura de glamour e desafio colocaram o álbum de estreia, Scissor Sisters no mapa. E, convenhamos, foi mesmo um dos grandes discos pop dos anos zero. O álbum teve sucessor em comprimento de onda semelhante, dois anos depois, em Ta-Dah e, após uma pausa mais extensa, um ensaio de evolução sem roturas maiores em Night Work (2010) onde as electrónicas e uma presença de atmosferas berlinenses (juntando-se às da omnipresente Nova Iorque) sugeriam novos caminhos, com momento maior no soberbo Invisible Light que visitava o marcante livro de estilo de uns Frankie Goes To Hollywood. Dois anos depois, mas sem a panache de outros tempos, um quarto álbum entra em cena e revela o primeiro passo em falso de uma banda que, dadas as marcas tão vincadas de personalidade, desde cedo se sentia que poderia ter pela sua frente um prazo de validade algo curto. Night Work tentara contrariar essa ideia abrindo caminhos. Mas em vez de focar agora uma opção, o grupo optou por fazer de Magic Hour um cocktail ainda mais variado de sabores, acabando nas mãos com um disco desorientado. Baby Come Home, a abrir o alinhamento, é herança direta dos caminhos seguidos nos dois primeiros álbuns. E Somewhere, quase a encerrar o lote de canções, uma projeção natural dos rumos sugeridos pelo álbum de 2010 (a presença de Stuart Price na produção reforçando naturalmente essa ligação). Mas pelo meio encontramos uma banda que, sem abandonar os seus princípios e marcas de identidade (revelando as letras interessantes sinais de evolução em certos de pontos de vista), não parece saber bem para onde quer ir, se atrás de inconsequentes baladas elegantes - em colaborações com Pharrell Williams ou Diplo - a incursões por caminhos em voga em várias latitudes da pop e da club scene do presente, sem contudo encontrar um patamar de diálogo sólido com a sua alma primordial. O desinspirado Shady Love (ao lado de Azealia Banks) ou o incaracterístico e mais recente single, Only The Horses (co-produzido por Calvin Harris) são exemplos de experiências falhadas. San Luis Obispo, ensopa a latinidade de pacote outro possível candidato a single desejoso de invadir o FM mainstream. Já Let’s Have a Kiki, revisita heranças do seu próprio passado mais próximo do eletroclash, em clima mais anguloso e desafiante, somando juntamente com o minimalismo à la M.I.A de Keep Your Shoes e os sabores house de Self Control os instantes verdadeiramente entusiasmantes de um disco que não repete a auto-confiança nem o viço festivo de outros álbuns. Que ao quinto disco apostem mais claramente numa agenda de ideias. Se as escutarem nas entrelinhas de Night Work ou nas breves frestas de verdadeira iluminação que aqui escutamos, talvez encontrem o patamar que lhes permitirá ser mais que a banda que fez aquele álbum que todos lembramos de 2004. Caso contrário, daqui a 20 anos serão apenas lembrados na nostalgia dos zeros com duas ou três canções desse disco de estreia. E dada a força da sua atitude pop e dos debates que levantaram nas letras das canções e em entrevistas, é pena se for esse o seu destino.

Em volta do Centre Pompidou

Fotos N.G.

Três olhares pelo Centre Pompidou, em pleno Beaubourg, em Paris. Imagens captadas entre as escadas rolantes que ligam os vários andares do edifício e o terraço no piso superior.

Nos 30 anos de 'Rio' (20)


Entre as várias versões criadas para o tema The Chauffeur, conta-se uma leitura que teve honras de edição em single. Integrada no alinhamento do álbum The Dawnseeker, disco de 2006 do projeto Sleepthief (do norte-americano Justin Elswick, a versão conta com a voz da inglesa Kirsty Hawkshaw (Opus III). Tal como o álbum, o single foi lançado em 2006.

segunda-feira, maio 28, 2012

Cinema português: os números e o resto

Como é óbvio, a compreensão do estado de coisas de uma cinematografia não se pode reduzir ao inventário dos respectivos números. Em Portugal, em todo o caso, propagam-se delírios e demagogias sem sequer existir o hábito de, ao menos, dar alguma atenção a esses números — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Maio), com o título 'Que espectadores para os filmes portugueses?.

Nas últimas semanas, chegaram às salas dois filmes portugueses aos quais se colaram, automaticamente, os rótulos de “acessíveis” e “comerciais”: Assim Assim, de Sérgio Graciano, e A Teia de Gelo, de Nicolau Breyner. O primeiro seria um retrato “despretensioso” de personagens “como nós”; o segundo recuperaria referências “tradicionais” dos géneros policial e de terror.
Não vou esconder que, em ambos os casos, os resultados me parecem profundamente desinteressantes, marcados que estão pela formatação (psicológica ou anedótica) imposta pelas telenovelas. Em todo o caso, mesmo que estivéssemos perante radiosas obras-primas, a impostura mantinha-se. Impostura dos cineastas? Não, impostura desse discurso que “ninguém” diz, mas que, nem que seja por demissão jornalística, tantas vezes aceitamos como um retrato adequado do cinema português: de um lado estariam os filmes “difíceis” que ninguém vai ver; do outro os produtos “populares” que mobilizam delirantes multidões de espectadores...
Qual é, então, a estatística do fenómeno? De acordo com os números oficiais (até 16 de Maio) do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), a performance comercial dos filmes em causa é liminarmente desastrosa: Assim Assim foi visto por 11.646 espectadores em 1.334 sessões (8,7 espectadores/sessão) e A Teia de Gelo por 4.805 em 721 sessões (6,6 espectadores/sessão). Vale a pena lembrar que, em 2012, os filmes portugueses até agora mais vistos são Florbela, de Vicente Alves do Ó, e Tabu, de Miguel Gomes, respectivamente com 37.369 e 18.335 espectadores (com taxas de ocupação que quase triplicam as dos exemplos anteriores).
Escusado será dizer que importa não combater uma estupidez com outra: deduzir as “qualidades” dos filmes (ou a falta delas) a partir de números das bilheteiras é uma chantagem que pertence ao espaço maniqueísta de debates televisivos mais ou menos gritados. Reconheça-se, aliás, que os próprios criadores demonstram o rudimentar bom senso de se demarcarem da demagogia que boicota qualquer discussão séria sobre a existência do cinema em Portugal. Nicolau Breyner, por exemplo, também no DN (3 de Maio): “(...) terá de acabar esta estúpida polémica entre o cinema de autor e o cinema comercial. Cinema é cinema. Quem me dera a mim que todos os filmes portugueses tenham um milhão de espectadores.”
Em boa verdade, importa também dizer que nenhum dos números citados justifica grandes euforias: em termos gerais, os espectadores portugueses mantêm uma relação frágil com o cinema do seu próprio país. O que se joga é de outra natureza, já que se liga com os poderes mais fortes da nossa vida cultural. A pergunta (descartada pela maioria da classe política) é esta: será possível que um público formatado, há mais de três décadas, pela mediocridade das telenovelas se interesse pelos filmes portugueses? A resposta tem tanto de cruel como de transparente: não é possível.

"Smash": a excelência musical

Subitamente, a reinvenção do cinema musical está... na televisão: a série Smash é um caso muito sério de inteligência histórica e excelência espectacular — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 Maio), com o título 'O renascimento do musical'.

Ao longo das últimas décadas, cada vez que aparece um filme musical, há uma pergunta ansiosa e nostálgica que se renova: será que o género tem condições para renascer? Em boa verdade, é uma interrogação que nasceu há cerca de meio século, quando a exuberância experimental de West Side Story (1961) representou, paradoxalmente, o fim de um modelo clássico de produção. Depois disso, há de tudo, claro, mas oscila entre o génio apocalíptico (All That Jazz, 1979) e o novo-riquismo televisivo (Chicago, 2002).
Confrontados agora com a série Smash (canal: TV Séries), deparamos com uma evolução tão ambígua quanto fascinante: por um lado, se podemos detectar uma ligação com o musical cinematográfico, ela passa, justamente, pela herança coreográfica de Bob Fosse e, muito em particular, pelos métodos de montagem de All That Jazz; por outro lado, verdade de La Palice, tão espantosa recuperação da tradição musical do cinema surge com a chancela da... televisão!
Criada por Theresa Rebeck (autora teatral e argumentista de cinema e televisão), com produção do estúdio DreamWorks (Steven Spielberg é um dos produtores executivos), Smash enraíza-se num desafio que excede o campo específico do musical. Assim, os protagonistas preparam um musical sobre Marilyn Monroe. Mais do que isso: ao fazê-lo, mantêm-se assombrados por sérias dúvidas sobre a simples possibilidade prática (e mitológica, hélas!), de revisitar, através das canções e da dança, um ícone tão universal.
Sintomaticamente, tais dúvidas são o motor da elaborada teia dramática da série, oscilando a sua evolução a partir da existência de duas candidatas ao papel de Marilyn (interpretadas pelas excelentes Katharine McPhee e Megan Hilty — na foto). Dito de outro modo: à maneira dos grandes musicais de Hollywood, também aqui as canções estão longe de ser meros apêndices “decorativos”. Bem pelo contrário: esta é uma série sobre a música e a produção da música, quer dizer, sobre as nuances do trabalho criativo. As notáveis canções de Marc Shaiman e Scott Wittman são também, por isso mesmo, peças essenciais da narrativa.