sábado, abril 14, 2012

Titanic, 14 de abril de 1912



Era domingo. O capitão fez a sua habitual inspeção diária ao navio, acompanhado pelos responsáveis de topo das várias secções. Seguir-se-ia um exercício de salvamento, para dar a saber a cada membro da tripulação qual seria o barco salva vidas ao qual teria de se apresentar em caso de acidente... Nunca aconteceu e esta falta foi dos pormenores mais inquiridos na investigação que se seguiu ao naufrágio. Mas nessa manhã, como nas outras em viagem, não houve exercícios. A temperatura tinha entretanto caído para valores bem mais baixos. Ao longo do dia chegaram, de outros navios na área, informação de que havia gelo adiante... O último aviso de que havia gelo no mar chegou às onze da noite, vindo do Californian, que avisou que estava parado e rodeado de gelo. O Titanic avançava, contudo, a grande velocidade... O ar estava gelado, as águas calmas.

Eram 23.40 quando do posto de vigia, onde não havia um par de binóculos, chega o aviso de gelo adiante... Há uma tentativa de manobra (muito debatida mais tarde no inquérito sobre se terá sido corretamente efetuada ou nem por isso). Mas o Titanic acaba por embater com um icebergue. Estudos efetuados depois de encontrados os destroços tentaram averiguar se o casco terá sido rompido ou se, pelo contrário, a mera pressão do icebergue contra o volume do navio (mais a velocidade a que seguia) terá causado antes tamanha pressão que fizesse soltar rebites e, consequentemente, afastado as chapas e deixando assim entrar água no navio.

O embate foi contudo suave e nem todos a bordo deram pelo sucedido. Passageiros nos convés superiores relataram a queda de blocos de gelo. Nos convés inferiores o embate foi mais evidente. E um dos poucos sobreviventes entre os passageiros de terceira classe contou mais tarde que, após ter sentido o embate, se levantou e, ao levar os pés ao chão, sentiu logo o frio da água que entrara na sua cabine. Não houve contudo uma noção imediata do perigo real. O comandante, que se tinha retirado algum tempo antes, reassumira a condução do navio e pediu a Thomas Andrews, que desenhara o Titanic, um retrato dos estragos... Depois de uma inspeção, verificando que a água entrara em seis compartimentos estanque, mais um que o que estava definido como seguro para manter o navio a flutuar, deu a notícia ao comandante perto da meia noite. O navio ia a fundar-se. E não teria mais de hora e meia pela frente (cálculo que na verdade não se revelaria totalmente preciso, o navio tendo levado um pouco mais a ir ao fundo).


Depois de termos visitado as memórias mais remotas das representações do Titanic no cinema, desde os dois filmes produzidos em 1912 ao histórico A Night To Remember, de 1958, hoje recordamos o mais célebre de todos: Titanic, de 1997, por James Cameron.

Em Titanic Cameron propõe um dois-em-um. Por um lado um retrato tão fiel quanto possível não apenas do navio, de figuras reais que seguiam a bordo e da forma como os relatos (e os factos entretanto colhidos desde que em 1985 os restos do navio foram encontrados no fundo do mar) permitiram a reconstituição do naufrágio. Por outro a junção de uma história de amor que junta num mesmo par duas vivências absolutamente distintas a bordo: uma jovem rica (que seguia em primeira classe e, portanto, estaria entre o grupo com maiores possibilidades de sobreviver a um acidente dada a política “mulheres e crianças primeiro” que presidiu à embarcação de pessoas nos salva vidas) e um rapaz que regressava à América em terceira classe. Ela, interpretada por Kate Winslet, ele, por Leonardo DiCaprio, conferem o tutano emotivo a uma história que junta o real a uma trama de ficção, a cuidada reconstituição dos factos fazendo deste, e apesar do romance que conduz a narrativa, o mais realista dos filmes alguma vez criados em torno da viagem inaugural de há cem anos. A assinalar a data o filme regressou recentemente às salas em versão 3D.