Será que ainda existe uma via realista para filmar o amor? A pergunta justifica-se, antes de tudo o mais, por um fascinante paradoxo: não é a pulsão amorosa um militante agente de todos os irrealismos? Como filmar, então, à flor da pele, aquilo que, por princípio, nos lança no território sem fronteiras do impossível?
Um Amor de Juventude, de Mia Hansen-Love, constitui uma bela resposta a tais interrogações: um filme posto em marcha por um amor louco entre dois jovens, mas que vai evoluindo sem nunca perder a dimensão linear, apetece dizer pedagógica, de um olhar atento às atribulações sociais de usos e costumes. Tendência eminentemente francesa, quanto mais não seja porque nela se exprime a agilidade "sociológica" de certas vias do cinema contemporâneo, sem nunca alienar a riquíssima herança romanesca que passa por autores como Ophuls, Renoir, Guitry, Truffaut e Téchiné — afinal, a tardição ainda é o que era.
>>> Un Amour de Jeunesse — texto de Jacques Mandelbaum (Le Monde).