sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Um telefilme sobre Margaret Thatcher

A Dama de Ferro é um objecto de cinema que se esgota no estatuto de competente telefilme, entendendo-se aqui a competência como a soma de duas componentes paradoxais: por um lado, um evidente know how de técnica, fabricação e profissionalismo; por outro lado, uma visão determinista da biografia de Margaret Thatcher, para mais sustentada por uma dramatização simplista (veja-se, por exemplo, a "presença/ausência" da personagem do marido) que tudo reduz a uma ilustração repetitiva de uma personalidade, uma história, uma época.

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Não viria por aí grande mal ao mundo. Em todo o caso, importa referir algo de sintomático: a visibilidade mediática de A Dama de Ferro revela a feroz dominação dos padrões televisivos no espaço audiovisual — afinal de contas, o filme de David Fincher, Millennium 1 - Os Homens que Odeiam as Mulheres, é também uma árdua discussão da condição feminina (e de que maneira!...) e não parece haver muita gente preocupada em enfrentar as implicações da sua narrativa. Isto para já não falarmos da agitação em torno da competência branda de Meryl Streep (sustentado, impecavelmente, o "bê-à-bá" de um tradicional estilo camaleónico), a par do esquecimento da admirável Rooney Mara dirigida por Fincher. Como se o cinema apenas fosse notícia quando serve para confirmar a televisão...