Mês Philip Glass - 10
'The Voyage' (2006)
Orange Mountain Music
O Corvo Branco não foi a única reflexão de Philip Glass sobre a memória dos tempos das descobertas. De resto, antes mesmo da ópera encomendada para estreia na Expo 98 ter chegado a Lisboa, uma outra tinha sido apresentada em 1992, assinalando precisamente o dia dos 500 anos da chegada de Cristóvão Colombo à América. Com libreto assinado por David Henry Hwang, The Voyage não procurou contudo nem fazer um percurso biográfico de Colombo nem mesmo um relato da sua aventura de 1492. Glass olhou antes adiante, criando uma visão sobre o que é ser explorador, focando atenções no mar, no espaço e na própria mente humana.
The Voyage é uma ópera que traduz toda uma aprendizagem que Glass viveu nos anos 80 depois dos primeiros ensaios de um mais profundo trabalho para vozes e orquestra em Satyagraha e Akhnaten e, sobretudo, a sua contribuição para The Civil Wars, na qual alcança outros horizontes. Das óperas-retrato dos anos 80 herda diretamente a mestria alcançada na utilização de coros. Mais que em óperas anteriores Glass explora as potencialidades do canto lírico (abrindo caminhos que o conduzirão, pouco depois, ao trabalho que alcançou nas óperas de câmara da trilogia baseada em Jean Cocteau). O trabalho para orquestra caminha no sentido de buscas que depois continuou na escrita de sinfonias.
A ópera só chegou a disco 14 anos depois da sua estreia, numa gravação dirigida por Dennis Russel Davies lançada em formato de duplo CD pela Orange Mountain Music, a editora do próprio Philip Glass. Tanto na temática como em soluções formais The Voyage é a ópera que mais se aproxima do trabalho que, pela mesma altura, desenvolveu em O Corvo Branco. Esta última, apesar dos excertos disponíveis no Glass Engine do site oficial do compositor, ainda não tem todavia edição em disco em agenda próxima.