terça-feira, janeiro 10, 2012
O sonho que era um pesadelo
Trocam-se os papéis, mas garante-se algo em comum. Sean Durkin assinara a produção do perturbante Afterschool, de Antonio Campos. Agora, Campos produz a estreia em longas metragens de Durkin em Martha Marcy May Marlene onde uma não muito distante ideia de arrepio mora igualmente entranhada entre figuras e histórias que, mesmo diferentes, partilham alguns traços de identidade em comum.
Estreado em Sundance há um ano, o filme serve de exemplo a uma linguagem dos nossos dias, consciente de olhares que se formam em parte por vivências online e não fazendo do aprumo formal a primeira das metas a atingir. Por sua vez, e apesar dos inúmeros saltos no tempo (entre um passado que, de certa forma, se agarrou ao presente da personagem principal) a solidez narrativa é coisa firme (o que não fecha as portas a dúvidas e medos que podem acabar em aberto).
O filme acompanha a história de uma jovem que, em fuga de uma comunidade algures em distante meio rural (e com ares de seita), onde a utopia era apenas sonho falado, reencontra um espaço de conforto familiar. Traz consigo valores e gestos baralhados pela experiência comunitária. E medos. Assombrações que não consegue apagar e a fazem inclusivamente sentir que possa estar a ser vigiada por aqueles de quem fugiu. Elizabeth Olsen, que interpreta a jovem assombrada por experiências que imaginamos traumáticas nesse seu passado recente, tem aqui um valente cartão de visita e não admira a chuva de nomeações para prémios que este filme lhe valeu.