segunda-feira, janeiro 16, 2012

Nos 50 anos de 'West Side Story'


Mais que apenas um feito maior da história do cinema musical norte-americano, West Side Story é um marco cultural do século XX, espelho não apenas das artes que convoca (o cinema, a dança, a música) mas também do espaço social que retrata (a multiculturalidade e a xenofobia na América dos cinquentas). Uma edição especial que assinala o 50º aniversário do filme acaba de sair em formato Blu Ray.

A ideia era a de repensar a medula clássica do Romeu e Julieta de Shakespeare em novo contexto. E sob sugestão de Leonard Bernstein, apontou-se o repensar da trama à Nova Iorque daquele tempo, transformando o jogo de ódios entre as duas famílias de que Shakespeare deu conta num choque entre populações, de um lado os americanos caucasianos de herança europeia, por outro os chegados mais recentemente de Porto Rico, cada um dos grupo representado pelo seu gangue, a luta pelo território – um quase nada pelo qual dão quase tudo – parecendo dar sentido a um quotidiano onde pouco mais parece acontecer. É claro que não falta o Romeu nem a Julieta. Ele é Tony, americano desendente de polacos e trabalha num pequeno bar. Ela é Maria, porto-riquenha, irmã do líder dos Sharks (o respetivo gangue). Olham-se num baile. E, contra tudo e contra todos, não pensam mais senão um no outro. Não falta o tempero de tragédia e, conhecendo Romeu e Julieta, basta adaptar a ideia ao novo tempo e lugar...

Estreado em palco, na Broadway em 1957, West Side Story revelava desde logo uma vibração muito peculiar não apenas dadas as características de uma história que parecia, de facto, falar aquele tempo e aquela gente, mas também pela música de Bernstein, que juntava à tradição do musical (e a toda uma formação clássica) o fulgor do jazz e dos ritmos latino-americanos. Com letras de Stephen Sondheim, canções como Maria, Tonight, Somewhere ou America começavam a trilhar o caminho que delas fez verdadeiros standards, ao mesmo tempo que as danças sinfónicas davam primeiros passos numa vida que delas faz ainda hoje presença regular em programas de concertos de várias orquestras e maestros. A adaptação ao cinema contou uma vez mais com o trabalho exigente do coreógrafo Jerome Robbins, que inclusivamente co-assinou a realização com Robert Wise. Além da música e das impressionantes sequências de dança, o filme reflete ainda um cuidado ao nível da direção de fotografia, os jogos intensos de cores sublinhando os contrastes entre os grupos e lugares, criando uma ideia de encanto característica do palco sem todavia abafar nunca as marcas sociológicas do mundo real que definiam o conflito que serve de base à narrativa. O filme deixou um legado marcante. A visão aérea de Nova Iorque na sequência de abertura fez escola. Muitas das canções conheceram depois novas versões e novas vidas. E alguns gestos, nomes e frases ganharam expressão em outros, e bem diferentes, acontecimentos mais recentes no cinema, na ficção televisiva, na música.


A nova edição em Blu Ray revela uma magnífica transcrição digital que em tudo faz reviver o brilho da cor que caracteriza as imagens. E junta uma pequena multidão de conteúdos adicionais, entre os quais dois documentários – A Place For Us – West Side Story’s Legacy e West Side Story Memories – que permitem o reencontro com vários elementos do elenco e equipa técnica não apenas do filme como da própria produção original de 1957 na Broadway. A música e as danças estão em evidência nos extras com, inclusivamente, um comentário de Stephen Sondheim.