sexta-feira, janeiro 06, 2012

Marilyn, Madonna e as outras

Michelle Williams tem a "missão impossível" de representar Marilyn Monroe no filme A Minha Semana com Marilyn; ela é, afinal, a herdeira de uma galeria de actrizes que, ao longo das décadas, interpretaram a mulher & o mito — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Janeiro), com o título 'A actriz, a imagem, o seu mito e as fotos dela'.

Recentemente, a Playboy publicou um portfolio de Lindsay Lohan “imitando” as fotos de Marilyn Monroe da primeira edição (Dez. 1953) da revista de Hugh Hefner. De alguma maneira, Lohan ampliava essa maldição com que o mito de Marilyn assombra o imaginário dos sexos: como repetir o misto de sensualidade e abstração da mulher que morreu demasiado cedo para contar a sua própria história?
Antes de Michelle Williams, foram muitas as actrizes que arriscaram envolver-se com as imagens de Marilyn, sendo Misty Rowe um dos exemplos mais remotos: foi no filme Goodbye, Norman Jean (Larry Buchanan, 1976), uma produção mais ou menos secundária que a história esqueceu. Por vezes, como no caso de algumas fotografias de Angelina Jolie, assumindo a herança de Marilyn como um desafio à sua própria pose. Outra vezes, como aconteceu com Catherine Hicks, representando-a para além da banal reprodução iconográfica: foi no telefilme Marilyn, Toda a Verdade (John Flynn, 1980), possuindo o trabalho de Hicks uma complexidade que falta a muitos outros (valeu-lhe uma nomeação para os Emmys). Isto para não falarmos das muitas citações mais ou menos paródicas, incluindo uma num clássico da comédia, O Homem das Mulheres (Jerry Lewis, 1961), estreado cerca de um ano antes da morte de Marilyn.
Com referências mais ou menos directas à vida privada de Marilyn, vale a pena lembrar ainda as composições de Theresa Russell em Uma Noite Inesquecível (Nicolas Roeg, 1985), ou Mira Sorvino e Ashley Judd em Norma Jean & Marilyn (Tim Fywell, 1996), representando-a em duas épocas diferentes. Em todo o caso, terá sido pela ironia que nos apercebemos melhor do misto de fragilidade e provocação que fazem o imaginário de Marilyn. A prova? O teledisco de Material Girl (1985), com Madonna [foto] a recriar a performance de Marilyn em Os Homens Preferem as Louras (Howard Hawks, 1953). E porque os olhares masculinos sobre Marilyn não esgotam esta história, importa lembrar que Material Girl foi dirigido por uma mulher, Mary Lambert.