Ironia bizarra: Madonna ganha o Globo de ouro pela canção Masterpiece [som em baixo], do seu filme W.E., e já se sabe que, de acordo com os regulamentos da Academia de Hollywood, não vai estar sequer nas nomeações para os Oscars (devido ao facto de não ser a primeira, mas a segunda, faixa sonora que se ouve no genérico final).
Se cedêssemos ao conceito mais determinista de destino, diríamos que se repete a maldição de Hollywood: afinal de contas, no ano em que ganhou o seu primeiro Globo, como melhor actriz de musical ou comédia (Evita, 1996), Madonna também não foi nomeada para os Oscars...
Mas a questão é outra: em boa verdade, os Globos não são a antecipação dos Oscars, mas sim um palco específico que, para além da sua importância relativa, ainda consegue marcar pontos no imaginário do cinema contemporâneo.
Mas a questão é outra: em boa verdade, os Globos não são a antecipação dos Oscars, mas sim um palco específico que, para além da sua importância relativa, ainda consegue marcar pontos no imaginário do cinema contemporâneo.
Daí o destaque para dois momentos emblemáticos: primeiro, a homenagem a Morgan Freeeman, com o prémio Cecil B. de Mille, mostrando que o cinema precisa de revisitar sempre as suas memórias; depois, a distinção de melhor filme estrangeiro para Uma Separação, do iraniano Asghar Farahdi (que recebeu o prémio das mãos de... Madonna) — há gestos que são imediatamente políticos, sobretudo quando escapam à banalidade corrente da pequena política. Não por acaso, Farahdi deixou uma menção simples e comovida ao seu povo.