Em Um Método Perigoso, o canadiano David Cronenberg coloca em cena um especialíssimo trio: Sigmund Freud (Viggo Mortensen), Carl Jung (Michael Fassbender), ambos envolvidos nos primórdios da psicanálise, e Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma das sua primeiras pacientes . A conversa que aqui se reproduz, realizada a 6 de Novembro, durante o Estoril & Lisbon Film Festival, teve Um Método Perigoso como pretexto imediato, acabando por desembocar em Cosmopolis, filme com Robert Pattinson [foto: rodagem em Toronto], baseado no romance de Don DeLillo, actualmente em fase de montagem — esta transcrição, em bruto, serviu de base a uma entrevista publicada no Diário de Notícias (29 de Novembro), com o título 'David Cronenberg no labirinto da psicanálise'.
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No seu próximo filme, Cosmopolis, tem Robert Pattinson (da saga Twilight) como protagonista. Como foi trabalhar com um actor que, para o melhor ou para o pior, tem o perfil de um ídolo da adolescência?
De facto, não foi a primeira vez, já que, quando fiz eXistenZ, Jude Law era um pouco um actor com esse tipo de perfil. O próprio Viggo Mortensen, quando trabalhamos pela primeira vez, em Uma História de Violência (2005), era muito popular através de O Senhor dos Anéis. Só tem peso quando se está a estabelecer o elenco. E é preciso encontrar alguém cuja fama suporte o orçamento de que necessitamos. O certo é que, em última instância, quando se está a filmar, nada disso conta. Estamos apenas ali, à noite, a filmar: nós, os actores, a equipa. E no caso de Rob (Pattinson), creio que ele encontrou connosco um espaço acolhedor. Da última vez que foi a Toronto para algumas gravações adicionais, apareceu sozinho, sem seguranças, apenas com uma mala. Terá tido que suportar um outro “paparazzi”, mas não mais do que isso. E o que é bom é trabalhar com o actor, não com a estrela.
Cosmopolis, de Don DeLillo, é um livro sobre as grandes cidades que construímos e, afinal, sobre a dificuldade de viver dentro delas. O filme é também sobre isso?
Creio que sim.
E sobre a procura de prazer dentro da cidade?
A procura de prazer e a fabricação de prazer artificial que, afinal, não dá prazer. Como quando se tem muito dinheiro e se compra tudo à espera de obter prazer. O livro de De Lillo tem qualquer coisa de profético, uma vez que o escreveu há quase dez anos e nele se antevê o descalabro económico: não tive que mudar quase nada para que produzisse um sentimento muito contemporâneo.
Será que procurou algum tipo de metáfora sobre a nossa civilização urbana?
Aí está: isso é um conceito e eu não trabalho com conceitos. O meu sentimento é que, de uma maneira ou de outra, essas coisas acontecerão naturalmente. Se o argumento for interessante e ousado, se soubermos fazer o filme tocando em muitas pequenas coisas, então esses aspectos mais abstractos estarão lá. Mas não vale a pena tentar metê-las no filme a partir do exterior – terá que vir do interior. E eu gosto que os meus filmes me surpreendam também a mim próprio.
Qual dos seus filmes o surpreendeu mais?
Todos me surpreendem. E é por isso que é tão excitante a primeira apresentação de um filme. As pessoas têm sempre coisas incríveis para dizer, coisas que nunca imaginámos.